Por definição
geral, malabarismo é uma das atrações pioneiras do circo tradicional. É a
capacidade de manter, no ar, argolas, bolinhas, claves, copos e o que mais a
criatividade do artista permitir. Malabarismo,
em essência, é a arte de manipular objetos com destreza. É a habilidade que
permite a alguém fazer tanta graça com as coisas a ponto de confundir os olhos
do público, que fica sempre atento à dança colorida que os objetos formam no
céu.
Para assistir aos
malabarismos da dupla “Duo Morales”, as pessoas encheram a Praça Gomes Freire, e,
como uma prévia do que viria, se equilibraram também, umas entre as outras,
para enxergar o melhor ângulo do espetáculo. Sentados em um dos banquinhos da
praça, com direito a uma visão panorâmica do que estava por vir, dois
garotinhos – um deles, com o nariz
pintado de vermelho – reparavam a
montagem do cenário, balançando os pés, numa ansiedade dessas urgentes que se
tem quando criança de uns quatro ou cinco anos:
– Eu gosto
mesmo é daquele negócio ali, sabe?
– Que negócio?
– Aquele
‘trem’ ali no chão, laranja e amarelo...
– Ah! A
sanfona?
– Nããão!
Aqueles troços pequenos que parecem uma roda...
– As argolas?
– Chama
“argola”?
– Chama, né! É
de fazer mabalarismo!
– Fazer o que?
–
MA-BA-LA-RIS-MO! É o que os palhaços vão fazer hoje, não sabia?
– Não! O quê
que é mabalarismo?
– É assim, oh:
o palhaço sai pegando as coisas no chão e joga pro alto! Depois, ele pega tudo
de volta, sem deixar cair nadinha! Eu sei fazer também.
– VOCÊ SABE
FAZER MABALARISMO?
– Sei.
– Então, me
mostra!
“Contagem regressiva! Mil,
Novecentos e noventa e nove...”
–
Agora, não dá... vai começar o show, olha lá o palhaço contando...
“Novecentos e noventa e oito, um!
Respeitáááável público, com vocês: Guga Morales e Dani Morales!”
–
Depois do show, você me ensina a fazer mabalarismo?
–
Shiiiiiiii! Tô prestando atenção ali, não tá vendo?
–
Ensina?
–
Vou pensar. Agora, fica quieto!
Argolas para o alto, prato em uma
mão, taça de vidro em outra. Bolinhas fazendo uma roda em frente ao malabarista
vestido de azul. Claves rodando por cima das cabeças das crianças que
acompanhavam o movimento dos objetos sem piscar, para não perder nem um minuto
da festa.
Os dois garotinhos, agora, de pé
em cima do banco da praça, assistiam a tudo admirados. O menor, de nariz
pintado, de vez em quando lançava um olhar espantado para o amigo, como se
pensasse “e ele sabe fazer isso tudo também!”...
Fim do show, hora dos
agradecimentos:
“Esse foi o show de malabarismo
da Duo Morales, no 4º Encontro Internacional de Palhaços...”
– Ele falou
“ma-la-ba-ris-mo!”...
– É! Eu já te
expliquei o que é mabalarismo, não expliquei?
– Mas não é
mabalarismo que fala, o palhaço disse ma-la-ba-ris-mo!
– Olha que eu
não te ensino a fazer nada!
O menino não insistiu. A vontade
de aprender com o outro devia ser maior que a necessidade de ouvi-lo dizer a
palavra de forma correta.
Enquanto o garoto de nariz
pintado se distraía com o fim do espetáculo, o menino malabarista puxou a calça
da mãe, que estava logo atrás dele:
–
Mãe, como é que se diz malabarismo?
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