quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Profissão: repórter?

Uma pauta infeliz, sob vários aspectos. Um programa ruim que traduz qualquer coisa menos a profissão que lhe dá o título. Uma indignação curtida, fermentada e instantânea – tipicamente jovem. Generalizações, como sempre, ignorantes e superficiais que se sobrepõem e se inserem em quem está dentro e fora da TV.

As pessoas que nos apontam os dedos são as mesmas que, quando entramos na Universidade, nos presenteiam com um discurso saudoso do próprio tempo de loucura e de excessos perdoáveis, mas que, de repente, vestiram a máscara do bom-mocismo e passaram a condenar todo e qualquer tipo de ‘auê’.

Não menos controversos, os que se indignam por terem sido enquadrados como estudantes que abusam do álcool são os mesmos que, há pouco tempo, comemoraram uma pesquisa segundo a qual fazem parte da Universidade onde mais se aprende a beber. Por que essa cara de espanto? Comemoraram, compartilharam, ufanizaram, sim, senhores. Não adianta negar.

A Universidade, tal como ela é, não é vista pela TV. Quando raro, aparece em um jornal ou em uma página do facebook. A Universidade, tal como ela é, está presente na vida dos jovens que fizeram uma escolha e tiveram sorte. Melhor época da vida – há boatos –, lugar onde somos apresentados à gente mesma, momento em que descobrimos o mundo e o olhar sobre esse universo maluco, estranho e assustador: são diversas as definições...

Vamos nos indignar por termos sido caracterizados como irresponsáveis? Vamos. Mas que tal nos sentirmos incomodados também pela apropriação cruel da vida das mulheres que foram tão ou mais personagens de uma “reportagem” que nós?

Vamos ficar roxos de raiva por nossos pais estarem aterrorizados por verem na TV um espaço universitário que não traduz o nosso? Vamos. Mas e se pensássemos nos pais dos jovens que interromperam, no meio do caminho, a trajetória que escolheram, por sermos condizentes e, por vezes, nos vangloriarmos dos nossos excessos?

Tudo é muito além e qualquer simplismo é um vício. O que está (ou não está) em pauta são vidas de pessoas, indignações tardias –  ainda que válidas –  controvérsias sérias e um mau uso do que chamam de jornalismo.

De tudo, o que fica é uma vontade de fazer diferente, pra não ser igual.

A minha profissão é repórter. A deles, já não sei.