quinta-feira, 24 de maio de 2012

A mulher da feira


Foto: Jamylle Mol
Balaio na cabeça: couve, alface, cebolinha e salsa. No mês de jabuticaba, jabuticaba. Mês de manga, manga. Os outros, limão. Todos os dias, 5h, ela já está nas ruas, passa pelas mulheres que caminham ou andam de bicicleta, com seus fones e músicas, por entre os trabalhadores que esperam seus ônibus, pelos carros de vidro fechado – invisível.

Lenço na cabeça, as mãos enrugadas seguram um peso gigantesco, o mundo nas costas. Ela expulsa um cachorro que dorme encolhido para esconder do frio, na esquina entre a rua e a praça. O sol ainda nem nasceu e a feira está pronta: ela espanta um cochilo e pensa nas crianças que ficaram em casa dormindo.

- Tá fresquinho?
- Pode levar...
- Dá um desconto?
- Pode levar...

Meio dia, a barriga ronca. Se tirar uma banana ou roubar uma manga, pode faltar pro freguês de mais tarde. Bebe mais água, seca as mãos na saia comprida de chitão, enxuga a testa e olha pra cima, por piedade ou esperança.

Fim do dia, moedas no saquinho de pano. Uma a uma, garantem o jantar. Hoje, a venda foi boa, pode ter salsicha no macarrão. Meninada alegre, dia de festa! Balaio vazio, o cachorro já está esperando que ela libere o lugar. Cabeça baixa, numa humildade servil, ela passa por entre as pessoas. No caminho, um papelão pra forrar a feira do dia seguinte. Hoje foi mesmo um dia de sorte!

Exausta, ela sobe o morro, observando cada pedra da rua, sem ver o céu. Chega em casa, rádio e ave Maria, macarrão, abraço e beijo na testa de cada um dos seus. Limpa o chão, molha a horta, reza o terço. Café quente e cama. Amanhã tem mais.

Dona, senhora, coitada, mãe, feirante. Sem nome, a mulher da feira. 

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