Foto: Jamylle Mol |
Lenço
na cabeça, as mãos enrugadas seguram um peso gigantesco, o mundo nas costas.
Ela expulsa um cachorro que dorme encolhido para esconder do frio, na esquina
entre a rua e a praça. O sol ainda nem nasceu e a feira está pronta: ela
espanta um cochilo e pensa nas crianças que ficaram em casa dormindo.
- Tá fresquinho?
- Pode levar...
- Dá um desconto?
- Pode levar...
Meio
dia, a barriga ronca. Se tirar uma banana ou roubar uma manga, pode faltar pro
freguês de mais tarde. Bebe mais água, seca as mãos na saia comprida de chitão,
enxuga a testa e olha pra cima, por piedade ou esperança.
Fim
do dia, moedas no saquinho de pano. Uma a uma, garantem o jantar. Hoje, a venda
foi boa, pode ter salsicha no macarrão. Meninada alegre, dia de festa! Balaio
vazio, o cachorro já está esperando que ela libere o lugar. Cabeça baixa, numa
humildade servil, ela passa por entre as pessoas. No caminho, um papelão pra
forrar a feira do dia seguinte. Hoje foi mesmo um dia de sorte!
Exausta,
ela sobe o morro, observando cada pedra da rua, sem ver o céu. Chega em casa,
rádio e ave Maria, macarrão, abraço e beijo na testa de cada um dos seus. Limpa
o chão, molha a horta, reza o terço. Café quente e cama. Amanhã tem mais.
Dona,
senhora, coitada, mãe, feirante. Sem nome, a mulher da feira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário