terça-feira, 1 de novembro de 2011

Desumanize-se


Peste negra, AIDS, câncer. Nazismo, holocausto, guerra. Homofobia. Excesso de informação. Os séculos sempre estiveram cheios de males característicos. Chamar isso ou aquilo de “mal do século” é uma prática recorrente. No entanto, atribuir ao tempo, à sorte, ao destino ou ao que quer que seja, as intempéries pelas quais passa o ser humano é, no mínimo, cômodo.

O mal não está no século, na década, no ano. O mal  está em cada um de nós que compõe os dias do calendário. Em cada indivíduo: famoso, ateu, povo, massa.  O mal do século é a falta de visão. E não, não me refiro à condição física de não enxergar. É a visão seletiva, cômoda. É a visão má.

Ponto. Maldade é o mal. Não dos tempos, mas do homem.  Não de todos, mas da regra.

Defendemos a reforma agrária porque queremos ver o “povo”, com todas as suas caras sujas e pés descalços, de volta para o campo.

Sonhamos com o fim da miséria unicamente pelo medo de sermos assaltados na próxima esquina.

Comemoramos o câncer de um político porque não compartilhamos de sua posição ideológica.

Passamos tanto tempo invejando os que se destacam que não temos tempo para nos destacar também.

Somos frios. Somos rudes. Grossos. Contraditoriamente incomunicáveis.

Ironicamente, há os que se ofendem ao serem chamados de “desumanos”. Se a humanidade é isso, o fato de não fazer parte dela não é castigo. É privilégio.

Quem sabe um dia me desumanize e possa conjugar novamente as minhas frases? Abandonarei a cumplicidade da primeira pessoa e substituirei o “nós” por “vocês”.
Melhor que isso é fazer um outro nós, assim, sem males do século. “Vocês” serão a exceção e um “nós” de visão clara e atos concretos será a regra.

Que venha, utópico, o mundo das exceções.

3 comentários:

  1. É...o mal do mundo é o ser humano! Mas acredite que o clichê é verdade, ainda existe esperança sim. Viva pelo que você acredita, e fará pelo menos o seu mundo e o das pessoas ao seu redor um pouco melhor.

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  2. Discordo do seu ponto de vista em acreditar que queremos a reforma agrária para que "os caras sujas" voltem ao campo ou que sonhamos com o fim da miséria em prol da nossa garantia de vida.Se você pensa dessa forma você já deve se sentir desumanizada. Não se deve generalizar o que uma minoria pensa , porquê no fim, mesmo que não saibamos, ainda nos importamos com alguém, por mais podre que as pessoas sejam. Porque somos podres, o ser humano é podre, mas ainda sim existem alguns que valham a pena.Concordo com o outro Anônimo: o clichê pode ser verdade, vivendo no que você acredita o seu mundo pelo menos valerá a pena e o dos que estiverem ao seu redor também

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  3. Esse Anônimo não sabe de nada!

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