sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O que é macumba?



Sempre fui metida a ler filosofia. Quando adolescente, trocava Harry Potter por Schopenhauer. Já vi filmes, fui a debates... só para conhecer mais sobre esse mundo cheio de pequenas loucuras e grandes responsabilidades.  Não encontrei muitas respostas, mas hoje, afirmo sem nenhuma dúvida: todo filósofo é criança. Se não fossem, de onde tirariam aquelas perguntas todas sobre tudo quanto há? Não foi assistindo filmes ou lendo “Assim falava Zaratustra” que cheguei a essa brilhante conclusão.

Domingo de sol, parquinho lotado, mães de todos os jeitos vigiavam seus filhos loirinhos de olhos azuis, negros de cabelo enroladinho, suas meninas segurando bonecas ou seus moleques jogando peteca.  Eis que surge uma voz 
doce, aos gritos, no vai e vem do balanço infantil:

- DINDAAAA, O QUE É MACUMBA?

Olhei para baixo, para os lados, na esperança de que a pergunta passasse despercebida. Entre risos, as mães e quantos outros adultos presentes no local procuravam o destinatário daquela pergunta. Fiquei em silêncio.

- HEIM, DINDAAAA? VOCÊ PODE ME EXPLICAR O QUE É MACUMBA?

Pronto, não havia mais jeito de negar: era pra mim que o questionamento se destinava. Pensei por alguns instantes a melhor forma de responder ao meu sobrinho de 4 anos e às outras dezenas de pares de olhos atentos ao que eu iria dizer a ele.

- Macumba é uma coisa ruim...

-IGUAL CASTIGO?

- Não...

- IGUAL FANTASMA OU IGUAL BRUXA?

- Ééé... igual bruxa.

- MACUMBA ANDA DE VASSOURA?

- Não...

- MACUMBA ANDA DE QUÊ?

- Macumba não anda, não.

- NEM TEM CALDEIRÃO?

- Não, macumba fica DENTRO do caldeirão.

- MACUMBA É SOPA?

- Não, macumba não é sopa.

- ENTÃO O QUE QUE É?

- Macumba é macumba, oras.

- QUE CARA QUE A MACUMBA TEM?

- Macumba não tem cara.

- É HOMEM OU MULHER?

- Não é nem homem, nem mulher.

- MACUMBA É CRIANÇA?

- Não.

- É BICHO?

- Não é bicho, não. Macumba é uma coisa que a gente não consegue ver, nem 
pegar.

- MACUMBA É IGUAL FUMAÇA?

- Quase.

No ápice da conversa, as mães já nem olhavam se os filhos estavam por perto ou se estavam comportados. Será que elas também queriam saber o que é macumba?
Após alguns minutos de diálogo:

- DINDA, PODE FALAR A VERDADE!

Eu me assustei e antes de planejar o que responder fui interrompida:

- PODE CONFESSAR QUE VOCÊ NÃO SABE O QUE É MACUMBA!

Senti um alívio, e disse, por fim:

- Pois é... eu não sei mesmo o que é macumba.

Não faço ideia se “macumba” assim, nesses termos, já foi tema de alguma teoria filosófica ou se algum pensador já dedicou horas do seu dia, naquela posição digna de Rodin, a divagar sobre o tema. No entanto, tenho certeza que a maiêutica de Sócrates era essencialmente infantil.  Afinal, à exceção das grandes mentes famintas e grávidas de uma idéia, só as crianças têm essa insistência pura de conhecer o mundo.

Segurando uma bola de futebol e sonhando com o picolé de mais tarde, meu pequeno grande filósofo terminou a manhã de domingo, sem saber o que é macumba.







  

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