quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Futility Show!


No dicionário: s. f.  Caráter, natureza daquilo que é fútil. Coisa fútil. Coisa de pouca importância.

Pronto. Está aí o significado irrefutável no chamado “pai dos burros”. Mas não é só lá que a palavra futilidade se encontra. Hoje, em meio aos discursos na democratissíssima internet, ela está mais na moda que o cabelo do jogador Neymar (percebam: estou dizendo CABELO e não cabeça). 

De repente, todos se viram no direito de erguer ao máximo o indicador da mão direita e colocá-lo no nariz mais próximo, gritando com uma revolta sem tamanho: FÚTIL!

Você ouve as músicas “pops”, dessas que tocam em programas populares de TV e em festas pelas ruas? Curte um sertanejo universitário no fim de semana? Não me diga que você comete o a-b-s-u-r-d-o de cantar junto com o Michel Teló? Ah, que pecado! VOCÊ É FÚTIL. 

Mas você aí que está com esse sorrisinho orgulhoso do seu bom gosto, não fique feliz: ouve Chico Buarque, Novos Baianos, Samba de raiz? Se orgulha de saber de cor e salteado a discografia do Vinicius de Moraes? Tem uma foto dos Beatles na parede do seu quarto? VOCÊ É FUTIL TAMBÉM! Não importa se você gosta disso desde criancinha: o indicador supremo de toda a verdade dirá que você só faz isso para satisfazer o seu ego de pseudo-intelectual. 

O indicador de futilidade também não perdoa os amantes do cinema nacional. Pensa bem: quem é que pode gostar REALMENTE de ver brasileiros gente-como-a-gente na TV? Impossível. Portanto, se você passa suas tardes de olho na Tv Brasil, VOCÊ É FÚTIL! Se você chama cinema de “a sétima arte” então, meu amigo, quanta futilidade você possui!

O dedinho vira-folha não para por aí: pensa que está livre por saber tudo sobre as séries americanas? Por ter uma foto do vampiro adolescente como fundo de tela do seu computador ou por amar Harry Potter desde que aprendeu a falar? Nada disso, VOCÊ É FÚTIL também.    

Bem, e os livros? Se você possui esse hábito horroroso – o de ler: VOCÊ É FÚTIL. Se suas leituras preferidas passarem longe dos Best-sellers da revista Veja então, nem se fala! Mas se você sonha com um livro autografado do Caio Fernando... Ah, VOCÊ TAMBÉM É FÚTIL

Eu também tenho um dedo indicador. Ele é desses revoltados com quem troca sua cultura nacional pela estrangeira – ainda que estejamos em tempos (há tempos) de globalização, ou com quem canta um funk cheio de glúteos, ou corre para assistir 16 (ou 14?) pessoas enfiadas em um carro no horário nobre. No entanto, tenho outros nove dedos menos imbecis. 

Mais que isso, tenho dois dedões pra fazer um “jóia” (assim, careta mesmo) pra todos vocês que não são fúteis o bastante para dizer que os outros o são.
Não importa se você cita Nietzsche ou sua vizinha, não importa se você assiste “Roda Viva” ou Big Brother, se você ouve Latino ou música clássica. Se você faz isso com toda a verdade que possui, para mim, (ou pelo menos para os meus nove dedos) você não é fútil.

Fútil, mas fútil MESMO, é quem possui dez indicadores mandões nos dedos das mãos, incapazes de perceber que a pluralidade de gostos é tão rica quanto perigosa. E que tem gente que não se importa em parecer erudito, inteligente, burro ou popular.

Atenção, futility show, HÁ QUEM GOSTE APENAS POR GOSTAR.
Abraços, meus heróis.




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