sábado, 17 de dezembro de 2011

Faltação


Escrever é uma forma de colocar “no papel” todas as indignações que deixam a bochecha vermelha, de tanta raiva que a gente sente. Por isso, comecei e apaguei este texto diversas vezes.

Pensei em escrever sobre a enfermeira que matou o cachorrinho. Ou sobre o vizinho que filmou, passivo, o assassinato.
Poderia comparar a morte do bichinho com as mortes-nossas-de-todo-dia que assolam tantas pessoas pelo país e que poderiam ser evitadas.
Poderia criticar os indignados que xingam-muito-no-twitter e só.
Também achei merecido destinar toda a minha raiva às pessoas que criticam os indignados que xingam-muito-no-twitter ao invés de se indignarem também.

Aí, me lembrei do motivo da indignação e senti a bochecha vermelhando outra vez. Matar um bichinho assim, à toa? Filmar uma coisa cruel dessas e não fazer nada? Xingar nas mídias sociais, desligar o computador e tomar uma cerveja? Chorar horrores ao assistir a um vídeo e ler as notícias tristes no jornal todos os dias e só se preocupar com o mau agouro que o horóscopo, da página de cultura, trouxe?

Não gosto de falar repetições. A briga só é minha enquanto não se tornou uma briga vista,  reconhecida  em cartório e abençoada por Deus. A minha briga, enquanto minha, individual, de direito, é para que as brigas se tornem brigas. Por isso, o texto sobre esse assunto termina antes de começar.

Afinal, já sei que existem milhares de pares de bochechas se avermelhando por aí, como as minhas.

O que falta, agora, é indignAÇÃO. (Preciso destacar ainda mais a AÇÃO?) 

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