Felicidade.
Para a Wikipédia, um estado durável de plenitude e satisfação. Para Vinicius e Tom, uma coisa louca e,
claro, delicada também. Para o filósofo Demócrito, ética. Para o meu sobrinho
de dois anos, chocolate e uma fantasia de algum super herói. Já para o meu avô
de 92, um café forte e um cochilo depois do almoço. O Guimarães disse que ela
se acha em horinhas de descuido. Enquanto, para o Drummond, ela é o caminho –
com pedras ou não.
Talvez o pai de todos os clichês seja o que
diz: a felicidade está nas coisas simples. Sorriso banguelo de criança. Bolha
de sabão. Domingo de chuva. Sábado de sol. Abraço de mãe. Grilo verde na
janela. Cheiro de pipoca. Segunda-feira de feriado. E por aí vamos. Mas, se é
assim tão fácil encontrar a tal felicidade, por que existe tanta gente infeliz
nesse mundão?
No Brasil, 7,2 milhões de pessoas passam fome.
E não. Não aquela fome que a gente sente entre o almoço e o jantar. Fome mesmo.
Dessas que até dói o coração só de imaginar. Essas pessoas passam dias inteiros
sem comer absolutamente nada pelo simples e único fato de não terem condições
financeiras. Elas vêem muitos sorrisos banguelos de criança, muitas bolhas de
sabão que fogem dos condomínios, muitos sábados de sol e grilos verdes. O que
mais querem?
Hoje, dia Internacional da Felicidade, pensei
em levar uma fantasia do homem aranha pra cada uma das crianças que fazem parte
desses 7,2 milhões de pessoas. Cheguei a colocar no micro-ondas, 7,2 milhões de
pacotes de pipocas e distribuir o cheirinho bom pra cada uma delas. Levei o café
do meu avô e pedi à minha mãe – que tem o melhor abraço que conheço – pra ir lá e
abraçar todo mundo. Nada adiantou: nem grilo verde, nem feriado.
Para o Ricardo Alves, lá do interior de Minas, felicidade
é ter um amor, a mãe por perto, amigos e um pouquinho de dinheiro que,
convenhamos, não faz mal a ninguém. Já para a Sarah Gonçalves, ser feliz é ter
liberdade: de amar, de ir e vir, de viver. O Juninho Moreira, entre uma piada e outra,
diz que feliz mesmo é quem tem dinheiro e mulher. A Isabela Azi acredita que o
que faz feliz é a família, a realização profissional e o amor. A Samylla Mol acredita
que o segredo está no entusiasmo: sentir-se pulsar. E a Maisa dos Anjos fica
feliz com internet, comida e cama, por que não?
Não há duvidas de que os 7,2 milhões de brasileiros
também desejam amor, amigos, a mãe por perto, liberdade de ir, vir e viver,
realização profissional, entusiasmo, cama e internet. No entanto, para essas
pessoas, o clichê é ainda mais comum: eles, antes de tudo, querem ter o que
comer. E talvez isso já seja ser feliz.
Hoje é o Dia Internacional da Felicidade.
Pensei em escrever um texto desses cheios de poesia, mas minhas palavras ainda
não podem se render ao lirismo e suas métricas complicadas. Minhas palavras são
tão simples quanto esses brasileiros. Seja feliz! Mas não se esqueça que outros
7,2 milhões de gente como a gente não o são.
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