Hoje é Páscoa: dia da
Ressurreição. Para os católicos, renasce Jesus. Dona Terezinha, lá do Complexo,
também é Jesus: com documento passado e assinado em cartório. Dona Terezinha,
lá do Complexo, também perdeu o seu menino numa quase sexta-feira da paixão.
Virão Natais, virão novas Páscoas, virão quartas de cinzas e quaresmas, mas o
menino da Dona Terezinha não estará com ela depois desse domingo.
Hoje é Páscoa: dia de comprar
chocolates e presentear as crianças. O menino da Dona Terezinha também era
criança, também gostava de chocolates e quem sabe até já acreditou em coelhos
de páscoa. Será que Dona Terezinha, doméstica, mãe, além de economizar os 200
reais do curso de informática, teria comprado um ovo de chocolate e escondido
na sua casa pequena, lá no Complexo?
ReproduçãoFacebook |
Hoje é Páscoa. Amanhã é
segunda-feira de uma semana qualquer. Todos se esquecerão do domingo, dos seus
bacalhaus e suas missas. Para a Dona Terezinha, mãe do menino Dudu, essa é a
primeira segunda-feira de todas que virão: com um “eu te amo” faltando no seu
whatsapp e uma lembrança triste bem em frente ao seu portão.
Em todos os anos, repetem-se a
Páscoa, a Sexta-Feira e os sábados de aleluia. No Complexo, que é a casa do
menino Dudu e sua mãe, Dona Terezinha, repetem-se, todos os dias, uma guerra
silenciosa em que, muitas vezes, só há um lado na briga: armado, apoderado,
cruel.
Façamos encenações nas ruas de
pedra. Façamos teatros e choremos nossas cruzes. Não vamos deixar que se
esqueça o sofrimento dele, que morreu por muitos. Passemos adiante: o menino
Dudu não está nessa Páscoa, nem estará nas outras que virão. Que toquem os sinos
de todas as igrejas e espalhem o recado: não há mais o menino, que também era
Jesus, mas há muitos Judas e muitíssimas pessoas que apenas lavam as suas
(nossas) mãos.
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