Durante o último mês, Santa Cruz
de Cabrália, Bahia, recebeu a seleção alemã de futebol. Os jogadores dançaram com os índios, viram
novelas, falaram português, comeram farofa, gravaram vídeos, tiraram trocentas
fotos e, para completar, foram embora e deixaram de presente um cheque de 10
mil euros para que a comunidade pudesse comprar uma ambulância.
Os brasileiros, por sua vez, não
economizaram elogios aos alemães. Nas redes sociais, o amor pela Alemanha
brotou com uma força tão grande que nem os sete gols puderam evitar. De tudo
isso, o que mais chama a atenção é que o brasileiro, assustado pela atitude
alemã, tenha se comovido mais com a solidariedade européia que com o fato de
uma comunidade ter que contar com a boa vontade internacional para comprar sua
própria ambulância.
Se é assim, fica o pedido:
alemães, fiquem um pouquinho mais! Não vão embora sem passar por Minas Gerais e
conhecer as muitíssimas famílias do interior que se apertam em casas minúsculas
por não terem como se mudar para outros lados. Não deixem de passar pelo nordeste
e ver como é sofrer a pior seca dos últimos 50 anos com pouca ajuda do poder
local. Passem por São Paulo, provem o pastelão e, de quebra, aproveitem para
escutar as histórias que andam circulando nos metrôs, entre uma encoxada e
outra. Voltem ao Rio de Janeiro, onde receberam a taça, e observem o quão
violenta pode ser a nossa polícia.
Alemães, o Brasil tem um coração grande
e possui uma desigualdade social ainda maior. Nosso Estado, que é um dos mais
ricos da América Latina, não consegue enxergar que a comunidade em Santa Cruz precisa
de uma ambulância ou que, em Roraima, o sul do estado anda sofrendo com uma
situação quase à beira do caos. O nosso
Estado que, esse ano assistirá e participará das disputas eleitorais, se sente
tão orgulhoso das boas mudanças nos últimos 12 anos que parece se esquecer que
ainda há muito o que fazer para acabar com a pobreza no país.
Estamos a poucos meses das
eleições. Alemães, fiquem um pouquinho mais e convençam o Podolski a sair por aí
lembrando a cada cidadão o sentido de ser brasileiro. Não vão embora, alemães,
até que possamos dizer “Não, muito obrigado” a qualquer presente como o cheque
que vocês deixaram e que, para quem entende que nem tudo é futebol, doeu (bem) mais
que os sete gols que vocês fizeram contra a nossa seleção.
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