segunda-feira, 14 de julho de 2014

Alemães, fiquem um pouquinho mais!

Durante o último mês, Santa Cruz de Cabrália, Bahia, recebeu a seleção alemã de futebol.  Os jogadores dançaram com os índios, viram novelas, falaram português, comeram farofa, gravaram vídeos, tiraram trocentas fotos e, para completar, foram embora e deixaram de presente um cheque de 10 mil euros para que a comunidade pudesse comprar uma ambulância.

Os brasileiros, por sua vez, não economizaram elogios aos alemães. Nas redes sociais, o amor pela Alemanha brotou com uma força tão grande que nem os sete gols puderam evitar. De tudo isso, o que mais chama a atenção é que o brasileiro, assustado pela atitude alemã, tenha se comovido mais com a solidariedade européia que com o fato de uma comunidade ter que contar com a boa vontade internacional para comprar sua própria ambulância.  

Se é assim, fica o pedido: alemães, fiquem um pouquinho mais! Não vão embora sem passar por Minas Gerais e conhecer as muitíssimas famílias do interior que se apertam em casas minúsculas por não terem como se mudar para outros lados. Não deixem de passar pelo nordeste e ver como é sofrer a pior seca dos últimos 50 anos com pouca ajuda do poder local. Passem por São Paulo, provem o pastelão e, de quebra, aproveitem para escutar as histórias que andam circulando nos metrôs, entre uma encoxada e outra. Voltem ao Rio de Janeiro, onde receberam a taça, e observem o quão violenta pode ser a nossa polícia.

Alemães, o Brasil tem um coração grande e possui uma desigualdade social ainda maior. Nosso Estado, que é um dos mais ricos da América Latina, não consegue enxergar que a comunidade em Santa Cruz precisa de uma ambulância ou que, em Roraima, o sul do estado anda sofrendo com uma situação quase à beira do caos.  O nosso Estado que, esse ano assistirá e participará das disputas eleitorais, se sente tão orgulhoso das boas mudanças nos últimos 12 anos que parece se esquecer que ainda há muito o que fazer para acabar com a pobreza no país.

Estamos a poucos meses das eleições. Alemães, fiquem um pouquinho mais e convençam o Podolski a sair por aí lembrando a cada cidadão o sentido de ser brasileiro. Não vão embora, alemães, até que possamos dizer “Não, muito obrigado” a qualquer presente como o cheque que vocês deixaram e que, para quem entende que nem tudo é futebol, doeu (bem) mais que os sete gols que vocês fizeram contra a nossa seleção.



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