Duas
portas e uma cancela meio caída, que soa um ranger incômodo quando cumpre seu
abre e fecha teimoso. A cruz colada à parede denuncia a esperança escondida na
casinha ao lado da igreja. Interior do interior de Minas. Gente escondida
debaixo do telhado de amianto, em cima do chão batido.
Para
conhecer os moradores, é preciso bater uma, duas, três vezes na portinha de
madeira. Moram longe, onde tudo parece ser difícil: a escola não funciona em
dia de chuva. “Quando chove, menina, na estrada, só passa avião!”. A saúde não
anda lá muito bem: vez ou outra, aparece um doutor, mas, remédio, não tem!
Telefone não “pega”, o preço na venda está caríssimo e a igreja de Santo
Antônio, o das causas urgentes, há muito, precisa de reforma.
No
meio da praça, centro da cidadezinha que não está no mapa, há um banco, um
cachorro, um cavalo e um senhor que observa. Observa os meninos que brincam
descalços, inocentes no desconhecer do mundo que os espera. Observa o mato que
cresce no cemitério por falta de um coveiro. “É a parte que me cabe deste
latifúndio”, diria, se conhecesse João Cabral. Vê uma moto que passa a toda
velocidade – único barulho nessa manhã de sábado quente, com suor que escorre
no rosto. Tudo está calmo, com um sossego que chega a doer.
Ninguém
vai até àquela casinha. Ninguém nunca parou para ouvir as histórias de quem
cuida daquele chão como se fosse um filho. Às vezes, mais que tudo – o médico
que não chega, a escola que não abre porque relampejou, a estrada que só passa
avião –, as pessoas só precisam de alguém que as escute.
Podem
dizer que memórias não mudam o mundo, que contar histórias nunca foi arma
contra coisa nenhuma. Mas, naquele sábado, entendi – ainda mais – a beleza que
há no querer escrever.
Tampei
a caneta e, sem querer, balbuciei Caetano: “meu trabalho é te traduzir...”
E a sua tradução é das mais bonitas, pois cada texto, me sinto dentro da história. Seu trabalho é puro sentimento,Já.
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