O computador surgiu no início do século XX, mas, para a minha mãe, ele só nasceu – com suas janelas, fios e mouses – há uma semana. E-mail, facebook, Word, Skype e photoshop: essas palavras nem sequer faziam parte do vocabulário de Dona Marilene, que, no auge dos seus 50 e tantos, via o computador da minha casa como um monstro impossível de domar.
Eis que um dia a saudade apertou
e espantou o seu medo da tecnologia – ou da modernidade, como dizem os bons
mineiros. Tecla por tecla, minha mãe aprendeu a ligar a CPU, conectar a
internet e navegar por aí. Ela, que tem quarenta e alguns anos de experiência
como mestre dos mais humildes, arranjou um professor, arregaçou as mangas e,
todos os dias, faz o seu dever de casa.
A uma semana atrás, o facebook
nem imaginava que, entre as montanhas de Minas, numa casa com varanda e
passarinhos na janela, havia uma Marilene Mol. Hoje, a carinha dela já está
estampada entre os rostos virtuais, colorindo a internet com sua bondade e
divertindo os meus amigos com as mensagens na minha timeline. “Já, hoje eu
descobri o Alt Gr e o Shift”, conta, pelo skype, toda feliz.
Há dias em que o otimismo escapa
dos nossos olhos – em manhãs de pães com manteiga e muito, muito sangue nos
jornais, como cantou Vinicius – e a vontade de mudar o mundo parece uma grande
bobagem, uma “síndrome de Dom Quixote”, como costumo ouvir por aí... Que ideia absurdamente
romântica e utópica achar que o amor pode transformar as coisas, não é? Pois bem. Nesses dias, lembro da
carinha da minha mãe me olhando pela webcam (que ela mesma escolheu na loja),
encantada com o universo novo que se abriu pra ela, e volto a acreditar nos sentimentos
que transformam.
Bastou um primeiro passo e, agora, Dona Marilene caminha, sozinha, por um mundo cheio de novidades: surpresas dessas que vêm fora de hora... Conhecer amigos, digitar provas da escola, curtir a página do Robertão no facebook, ver as fotografias dos moleques da minha irmã no e-mail: nada disso moveu a minha mãe. Ela foi movida única e exclusivamente pelo amor.
“Quem tem mãe, não tem medo”, bem
disse o Henfil. Acrescento: Quem tem mãe, como a minha, não tem medo de mudar o
mundo - pelo amor. Tudo se tornou mais fácil, mais crível e melhor desde o dia
em que minha mãe descobriu o computador.
E nos olhinhos marejados dela, a sua voz ecoa aqui...entre os passarinhos na varanda, o café no bulé e o sorriso da tarde. "O amor pode tudo, mulher"
ResponderExcluirSempre ouvi dizer que a fruta não cai longe da árvore. Lendo a sua mãe, vejo você, minha querida, daqui há alguns anos!
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