terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Primeira pessoa

Não gosto de escrever em primeira pessoa. Talvez porque, sem saber, só penso em coletivo. Mas pode ser também o velho medo de dar a cara a tapa que às vezes resolve fazer uma revisita. A exceção de agora, no entanto, é necessária, já que o incômodo é singular demais para me esconder numa terceira pessoa comodista.

Falta pouco tempo para terminar a universidade. E, às vezes, me assusto com o que vejo por aí. Não sou fã de intelectualismos, desses em preto e branco que não sujam o pé, mas não consigo entender as pessoas que formam em um curso de humanas (sociais aplicadas, que seja!) sem ler nenhum livro inteiro sequer. É, no mínimo, apavorante pensar numa imprensa que desconhece seus antepassados, que não imagina o quanto o jornalismo já alterou realidades por aí... Não dá pra fugir: a prática é boa (diria: assustadoramente deliciosa), mas debruçar sobre a teoria e sobre os livros é algo que não dá pra deixar só por conta dos xerox que nos são indicados ao longo dos semestres. É difícil imaginar a perda de quem sai da universidade, em um curso de jornalismo, sem saber quem foi o Wainer, ou o Chatô, por exemplo. Não saber quem foi o Henfil então... uau! Desse, não preciso nem dizer.

Um dia, no começo de tudo (faz tempo, ai!), disseram que jornalistas devem ser chatos. Bom. Bem bom. Vamos ficar inconsolavelmente indignados com os problemas que cercam a cidade? Vamos! Que tal não deixar as grandes empresas mandarem e desmandarem no que é do povo? Ótimo. E a política, heim? Nada como ser chato ao entrevistar um desses nomes que falam bem, pro mal. O perigo é achar que esse “ser chato” é outra coisa que vai além de ser repórter (desses de verdade, sabem como?). Ser chato não significa negar tudo e todos com a veemência característica de quem ignora! Há, sim, outros chatos mais capazes do que o nosso umbigo enxerga, por que não? Há, sim, jornalistas (e muitos!) fazendo um belíssimo trabalho. Não, ninguém é melhor que o colega só porque acha que o é. Nem todo gênio é chato. Aliás, desconfio que a maioria deles passa longe disso. Quer coisa mais genial que a humildade? Desconheço.

Legal demais também é esse desejo de salvar o povo, falar do povo, escrever pro povo. Sensacional. É isso aí! Afinal, o jornalismo é feito para quem? O difícil é saber que o povo não é aquele que aparece na TV, todo juntinho quando rola uma manifestação. PASMEM: o povo é o colega de classe, é o porteiro, é o professor, é o motorista. Portanto, vamos, sim, querer fazer o melhor pro povo desse Brasil (e do mundo, por que não?), mas, antes, vamos lembrar que o povo tá ali pertinho. É assim tão difícil começar agora? Nem é. Basta fazer uma forcinha pra dar um bom dia que, com certeza, as boas intenções que rondam as monografias serão bem mais fáceis de serem aceitas no mundo carne e osso.

Jornalismo é um troço que faz pulsar, que tira o sono, que mexe com os miolos. Não sei se a gente perde esse amor todo pela profissão à medida que vai amadurecendo. Espero que não. Por agora, essas inquietações que me chegam sempre que vejo um humorista descompromissado com a verdade (a danada da verdade) se tornando um grande ídolo, a cultura nacional sendo cada vez menos conhecida por quem jura de pés juntos que quer ser repórter de um caderno especial (de cultura, óbvio) ou alguém reclamando de uma pauta “humana” demais, dá um arrepio. 

Podem dizer que não tenho nada – e absolutamente nada – a ver com isso. Mas, oras, há intromissões necessárias. Por que não?

Um comentário:

  1. Pra ser jornalista (jornalista de verdade né?) tem que ser, antes, cidadão. Mas falar bonito... acho que só a palavra bonito já é uma forma de diferenciar narrativas que na verdade, só existem com um propósito: fazer-se entender. E ao povo (sim, o povo são os alunos do seu lado, o porteiro, e etc, mas, principalmente, cidadãos que sofrem do abuso e do descaso político que a cidade se encontra)não interessa como está escrito. Ao povo interessa o intendimento. A preocupação. Ao povo interessa sermos jornalistas. Com citações ou sem.

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