Falta pouco tempo para terminar a
universidade. E, às vezes, me assusto com o que vejo por aí. Não sou fã de
intelectualismos, desses em preto e branco que não sujam o pé, mas não consigo
entender as pessoas que formam em um curso de humanas (sociais aplicadas, que
seja!) sem ler nenhum livro inteiro sequer. É, no mínimo, apavorante pensar
numa imprensa que desconhece seus antepassados, que não imagina o quanto o
jornalismo já alterou realidades por aí... Não dá pra fugir: a prática é boa
(diria: assustadoramente deliciosa), mas debruçar sobre a teoria e sobre os
livros é algo que não dá pra deixar só por conta dos xerox que nos são indicados
ao longo dos semestres. É difícil imaginar a perda de quem sai da universidade,
em um curso de jornalismo, sem saber quem foi o Wainer, ou o Chatô, por
exemplo. Não saber quem foi o Henfil então... uau! Desse, não preciso nem
dizer.
Um dia, no começo de tudo (faz
tempo, ai!), disseram que jornalistas devem ser chatos. Bom. Bem bom. Vamos
ficar inconsolavelmente indignados com os problemas que cercam a cidade? Vamos!
Que tal não deixar as grandes empresas mandarem e desmandarem no que é do povo?
Ótimo. E a política, heim? Nada como ser chato ao entrevistar um desses nomes
que falam bem, pro mal. O perigo é achar que esse “ser chato” é outra coisa que
vai além de ser repórter (desses de verdade, sabem como?). Ser chato não
significa negar tudo e todos com a veemência característica de quem ignora! Há,
sim, outros chatos mais capazes do que o nosso umbigo enxerga, por que não? Há,
sim, jornalistas (e muitos!) fazendo um belíssimo trabalho. Não, ninguém é
melhor que o colega só porque acha que o é. Nem todo gênio é chato. Aliás, desconfio
que a maioria deles passa longe disso. Quer coisa mais genial que a humildade?
Desconheço.
Legal demais também é esse desejo
de salvar o povo, falar do povo, escrever pro povo. Sensacional. É isso aí!
Afinal, o jornalismo é feito para quem? O difícil é saber que o povo não é
aquele que aparece na TV, todo juntinho quando rola uma manifestação. PASMEM: o
povo é o colega de classe, é o porteiro, é o professor, é o motorista.
Portanto, vamos, sim, querer fazer o melhor pro povo desse Brasil (e do mundo,
por que não?), mas, antes, vamos lembrar que o povo tá ali pertinho. É assim
tão difícil começar agora? Nem é. Basta fazer uma forcinha pra dar um bom dia
que, com certeza, as boas intenções que rondam as monografias serão bem mais fáceis
de serem aceitas no mundo carne e osso.
Jornalismo é um troço que faz
pulsar, que tira o sono, que mexe com os miolos. Não sei se a gente perde esse
amor todo pela profissão à medida que vai amadurecendo. Espero que não. Por
agora, essas inquietações que me chegam sempre que vejo um humorista
descompromissado com a verdade (a danada da verdade) se tornando um grande
ídolo, a cultura nacional sendo cada vez menos conhecida por quem jura de pés
juntos que quer ser repórter de um caderno especial (de cultura, óbvio) ou alguém
reclamando de uma pauta “humana” demais, dá um arrepio.
Podem dizer que não
tenho nada – e absolutamente nada – a ver com isso. Mas, oras, há intromissões necessárias.
Por que não?
Pra ser jornalista (jornalista de verdade né?) tem que ser, antes, cidadão. Mas falar bonito... acho que só a palavra bonito já é uma forma de diferenciar narrativas que na verdade, só existem com um propósito: fazer-se entender. E ao povo (sim, o povo são os alunos do seu lado, o porteiro, e etc, mas, principalmente, cidadãos que sofrem do abuso e do descaso político que a cidade se encontra)não interessa como está escrito. Ao povo interessa o intendimento. A preocupação. Ao povo interessa sermos jornalistas. Com citações ou sem.
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