Na
década de 1950, Nelson Rodrigues, em suas ásperas colocações sobre o povo
brasileiro, criou a expressão “complexo de vira-lata” para caracterizar o
sentimento de submissão que, segundo o escritor, se apossou do Brasil após a
Copa de 50. Ao traduzir, de forma simplória, a teoria do autor, pode-se fazer
uso do ditado popular que diz que “a grama do vizinho é sempre mais verde do
que a nossa”.
Como tudo, é preciso ter propriedade para atribuir a toda uma população esse sentimento de inferioridade. No entanto, basta parar um pouco, entre um compromisso e outro, para perceber que, atualmente, para boa parte das pessoas, a tal “grama” do vizinho passa despercebida.
Como tudo, é preciso ter propriedade para atribuir a toda uma população esse sentimento de inferioridade. No entanto, basta parar um pouco, entre um compromisso e outro, para perceber que, atualmente, para boa parte das pessoas, a tal “grama” do vizinho passa despercebida.
Se
houvesse uma adaptação do ditado popular para a vida contemporânea, ela poderia
ser “a minha grama é verde. E isso basta”.
Talvez pela necessidade de ser uma voz de destaque entre outras tantas vozes, talvez pelo medo de “ficar pra trás” na corrida louca que a vida se tornou ou por puro desinteresse, deixamos de olhar para o lado, de perceber o outro. O nosso vizinho, paradoxalmente, está cada vez mais distante, mais invisível à nossa percepção cega, egoisticamente seletiva.
Se a nossa “grama” está verde, é o suficiente. O vizinho que encontre uma forma de cuidar da sua própria. Não importa se no quintal do outro não chove tanto quanto no nosso ou se ele não pode ter as ferramentas suficientes para cuidar do seu jardim. Ele que se vire, temos que preparar a nossa casa para a próxima primavera. Se colhermos muitas flores, podemos até jogar algumas para o outro lado da cerca e tranquilizar a nossa consciência.
Que tal pararmos, um minuto por dia, para olhar para o lado? Se todos tivessem jardins verdinhos, o bairro-mundo não seria bem mais bonito?
Pior que sofrer porque a grama do vizinho é mais verde que a nossa, como sugeriu Nelson Rodrigues, é saber que, na casa ao lado, não há nem sequer um jardim e, ainda assim, permanecer na nossa rotina perfumada no interior do muro.
Há os ditados: populares. Existem as metáforas: corajosamente inteligentes.
Talvez pela necessidade de ser uma voz de destaque entre outras tantas vozes, talvez pelo medo de “ficar pra trás” na corrida louca que a vida se tornou ou por puro desinteresse, deixamos de olhar para o lado, de perceber o outro. O nosso vizinho, paradoxalmente, está cada vez mais distante, mais invisível à nossa percepção cega, egoisticamente seletiva.
Se a nossa “grama” está verde, é o suficiente. O vizinho que encontre uma forma de cuidar da sua própria. Não importa se no quintal do outro não chove tanto quanto no nosso ou se ele não pode ter as ferramentas suficientes para cuidar do seu jardim. Ele que se vire, temos que preparar a nossa casa para a próxima primavera. Se colhermos muitas flores, podemos até jogar algumas para o outro lado da cerca e tranquilizar a nossa consciência.
Que tal pararmos, um minuto por dia, para olhar para o lado? Se todos tivessem jardins verdinhos, o bairro-mundo não seria bem mais bonito?
Pior que sofrer porque a grama do vizinho é mais verde que a nossa, como sugeriu Nelson Rodrigues, é saber que, na casa ao lado, não há nem sequer um jardim e, ainda assim, permanecer na nossa rotina perfumada no interior do muro.
Há os ditados: populares. Existem as metáforas: corajosamente inteligentes.
Por
uma forma ou outra, todos sabem(os): nem tudo são flores. Nem toda grama é
verde. Mas todos somos responsáveis pelo jardim – nosso ou vizinho.
E você, sabe como é o quintal ao lado?
E você, sabe como é o quintal ao lado?
Ótimo texto, Jamylle! E de extrema urgência!Em um mundo que se descreve defensor das pluralidades e das questões sociais, nós continuamos vivendo imersos em um auto-centramento cego que nos impossibilita de ver a beleza do outro ou suas mazelas. Isso se aplica aos relacionamentos amorosos, profissionais, familiares, no trânsito e em todas as relações cotidianas. Seu texto me lembrou de outra coisa que o Fred Fagundes disse nesse texto aqui: http://papodehomem.com.br/ninguem-e-o-melhor/
ResponderExcluirMuito obrigada, Lucas! Gostei demais, demais desse texto que você me enviou! Um abraço e continue passando por aqui!
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