Mas dezembro
é um mês clichê. Ô, mesinho danado de clichê que é o tal do dezembro. Todo
mundo fica meio bonzinho, meio feliz. As refeições são as mesmas, assim como as
simpatias e cores de roupa. As casas ficam pintadas do mesmo jeito, com os
mesmos enfeites, a mesma árvore cheia de luzes indecisas e o mesmo barbudão
iludindo as crianças. As ruas ficam repletas de gente com as mesmas intenções e
as mãos cheias das mesmas sacolas. Tão repetitivo quanto este parágrafo mal feito.
E
aquele brilho nos olhos que o povo traz? Clichês.
Em
todo – ou quase todo – lugar, a vontade de estar com os nossos, de desejar
coisas boas, de fazer o bem. É isso,
fazer o bem é um troço clichê. Desejar mudar tudo e ser alguém melhor? Mais que clichê. Comemorar, feito bobocas, a conclusão de 365 dias
que, um ano atrás, eram só planos é óbvio demais.
Em
dezembro, acontecem aquele monte de campanhas de solidariedade, as trocas de
cartas e cartões coloridos. Começam as dietas, as promessas, os perdões, os
romances. Uma lista interminável de clichês baratos comprados a prestação.
Dezembro
é um mês clichê. Até quem foge do clichê, nesta época, é clichê. Aquelas toucas
vermelhas, os sorrisos descansados, a preocupação em acertar o presente e a
curiosidade em desembrulhar o papel. De repente, ficamos todos um tanto quanto
infantis. E tem ‘coisa’ mais clichê que criança? Estão sempre com aquelas
carinhas de consciência tranquila. Clichês!
Dezembro
é clichê. Fim do ano é clichê. Fim do mundo é clichê. Não ser clichê é clichê. Texto
sobre clichês é clichê.
Ser,
pensar e agir diferente é importante e sufocantemente necessário. No entanto, dar
ao luxo de seguir a maré, ainda que escondidinho, só neste mês, é o que há de
melhor.
Se
ser feliz é óbvio demais, clichês, muito prazer, aí vamos nós!