segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Azar em desabafo

Exatos dois anos atrás. O título de eleitor contava os dados: 20 anos, duas décadas de vida. O brasileiro, no olhar, informava, explícito: oito anos – imaturos e distantes – de passarinhos no governo do retrocesso prático intelectualizado e de sapatos limpos. Pela primeira vez, exercia o direito de voto para presidente: perigoso, sério, necessário. Apertar o botão e ouvir o “trim” que ajudasse a en-direitar o Brasil era impensável, inviável, justamente negável.

O que eu queria? Queria, sim, que continuassem as bolsas assistencialistas, que todas as medidas econômicas, de investimento no meu próprio país, seguissem sóbrias, queria o de todo sempre-amém: impostos bem gastos, escândalos – já que historicamente resistentes – investigados, educação – sim, ela – emprego e o mínimo que se pensa quando se imagina uma nação (com todo o significado simbólico que o termo traz de brinde). Mas, mais que isso, embalada, ainda, pela imaturidade que a idade trazia em si, quis acreditar em líderes, me ver representada, não sentir ódio (não consigo pensar numa palavra mais branda) ao assistir, pela TV, a uma declaração presidencial – qualquer que fosse o motivo. Queria, sobretudo, acreditar. E acreditei.

O rosto não era barbudo, como de praxe, o discurso, um tanto quanto teatral – pelo que percebeu a minha percepção leiga – uma história complexa, mas forte. Escolhi. Levantei uma bandeira. Colei adesivo na parede do meu quarto. Assisti aos debates. Votei. Não uma, mas quantas vezes fossem necessárias.

Exatos dois anos depois. O título de eleitor conta os dados: 22 anos, dois deles em uma Universidade Federal tentando aprender a ser crítica, estudando grandes e corajosos nomes, buscando, nos quadrinhos, uma representação de um Brasil dos miúdos, feito pelos grandes. Situação? Greve. Não, não ajudei a endireitar o Brasil (agora sem o hífen, percebem?).  

Mas, de repente, o número 13 voltou a dar azar e parece que todo dia, no Brasil grevista, é uma sexta-feira.

Queria ser uma tartaruga...


A gente passa nove meses num lugar quentinho, protegidos de tudo quanto há de ruim neste mundão e, de repente, é hora de sair, de conhecer pessoas, lugares, ideias. Como um susto, chega a hora de abrir os olhos e andar com os próprios pés. Com um tapa de um desconhecido vestido de branco. Desconhecido.

Com sorte, passamos mais alguns anos sob o olhar atento dos nossos, sempre ali pertinho para ensinar uma palavra nova, para nos apresentar às regras – às vezes tão doloridas – do convívio social ao qual seremos submetidos mais cedo ou mais cedo.  No pesadelo infantil, podemos sair do quarto, pé ante pé, e correr pro colo de mãe, no quarto ao lado. Se, na escola, alguma coisa tira nosso sorriso costumeiro, chegamos em casa de bochechas vermelhas e olhos chorosos e apelamos para os nossos anjos da guarda: pai, mãe, irmão, cachorro e o travesseiro, tão amigo. E, como num passe de mágica, tudo volta a ser bom como antes.

Crescemos. E, sem perguntar se é isso que queríamos, não podemos mais fugir para o quarto de mãe, temos que resolver, sozinhos, o que nos acontecer de ruim quando colocamos o pé para fora de casa e começamos mais um dia. Adultos. Livres. Sozinhos.

Alguns saem de casa bem cedo e seguem seus caminhos, escolhem o que é de direito e direito, escolhem um curso, uma cidade e vão. Outros, mais sortudos – ou não – têm mais tempo aninhados: permissão pra sair e hora pra chegar, almoço no fogão e roupa limpa no armário, café preto na volta pra casa e um abraço sincero de quem quer mesmo saber como foi o dia, a certeza de que há alguém à espera com um conselho certeiro: nem que seja um “leva uma blusa que vai esfriar” e sempre esfria.

Mas até para esses – nós – há o tempo de ficar e o tempo de sair: implacável. Tarde ou não, aquele medo de andar sozinho, de só ouvir vozes, sem ver o rosto, de não ter abraço de mãe e sorriso na porta de pai todos os dias, como um presente, sempre chega.

E é por tudo isso que eu queria ser como uma tartaruga que pode ir pra qualquer canto levando sua casa nas costas... com os seus sempre por perto. Mas tartarugas andam devagar, não sonham alto. Impossível, pra quem quer voar.