segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Queria ser uma tartaruga...


A gente passa nove meses num lugar quentinho, protegidos de tudo quanto há de ruim neste mundão e, de repente, é hora de sair, de conhecer pessoas, lugares, ideias. Como um susto, chega a hora de abrir os olhos e andar com os próprios pés. Com um tapa de um desconhecido vestido de branco. Desconhecido.

Com sorte, passamos mais alguns anos sob o olhar atento dos nossos, sempre ali pertinho para ensinar uma palavra nova, para nos apresentar às regras – às vezes tão doloridas – do convívio social ao qual seremos submetidos mais cedo ou mais cedo.  No pesadelo infantil, podemos sair do quarto, pé ante pé, e correr pro colo de mãe, no quarto ao lado. Se, na escola, alguma coisa tira nosso sorriso costumeiro, chegamos em casa de bochechas vermelhas e olhos chorosos e apelamos para os nossos anjos da guarda: pai, mãe, irmão, cachorro e o travesseiro, tão amigo. E, como num passe de mágica, tudo volta a ser bom como antes.

Crescemos. E, sem perguntar se é isso que queríamos, não podemos mais fugir para o quarto de mãe, temos que resolver, sozinhos, o que nos acontecer de ruim quando colocamos o pé para fora de casa e começamos mais um dia. Adultos. Livres. Sozinhos.

Alguns saem de casa bem cedo e seguem seus caminhos, escolhem o que é de direito e direito, escolhem um curso, uma cidade e vão. Outros, mais sortudos – ou não – têm mais tempo aninhados: permissão pra sair e hora pra chegar, almoço no fogão e roupa limpa no armário, café preto na volta pra casa e um abraço sincero de quem quer mesmo saber como foi o dia, a certeza de que há alguém à espera com um conselho certeiro: nem que seja um “leva uma blusa que vai esfriar” e sempre esfria.

Mas até para esses – nós – há o tempo de ficar e o tempo de sair: implacável. Tarde ou não, aquele medo de andar sozinho, de só ouvir vozes, sem ver o rosto, de não ter abraço de mãe e sorriso na porta de pai todos os dias, como um presente, sempre chega.

E é por tudo isso que eu queria ser como uma tartaruga que pode ir pra qualquer canto levando sua casa nas costas... com os seus sempre por perto. Mas tartarugas andam devagar, não sonham alto. Impossível, pra quem quer voar.