tag:blogger.com,1999:blog-73324617112780689222024-03-13T11:50:03.255-03:00 Destrocando em miúdosJamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.comBlogger58125tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-68309957482641377332015-04-10T19:40:00.004-03:002015-04-10T19:43:15.038-03:00Somos todos Manuel<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O meu nacionalismo corre nas
veias: rápido, sincero, pulsante. Hoje, ouvi no rádio um cantor negar o próprio
português e então corri para o meu armário e vesti a minha capa verde amarela:
aquela que escondi no último sete a um. Admirei o meu reflexo no espelho, tão </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif;">made in Brazil</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">, e corri para o mundo
obedecendo à vontade de provar que não sou menos culto que um europeu. O inglês
é universal, mas eu sou dono das minhas escolhas. Saí, indignado. O meu grito
percorreu ruas, favelas, Planalto Central. Alçou vôo. Reuni multidões a favor
da minha causa nacionalista. Lutei.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Na Câmara Federal, o projeto de lei
4330 está escrito em português. No entanto, o texto não causou em mim tanta
indignação quanto a declaração daquele cantor que ouvi no rádio. E daí se esses
quatro números representam um retrocesso na causa trabalhista nacional ou se o
salário de 18 milhões de brasileiros poderá diminuir significativamente? Nesse
texto, ninguém critica a minha camiseta apertada, o meu gosto por futebol ou o
meu relógio branco. Nesse texto – que, repito, está escrito em português –, ninguém
ofendeu minha pátria amada Brasil. E, mais importante: nesse texto, NINGUÉM
duvidou da minha inteligência ou poder de escolha. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O meu nacionalismo corre nas
veias: rápido, sincero, pulsante. Dona Terezinha (vocês ainda se lembram dela?)
mudou-se para o Piauí depois de ver o seu Eduardo ser atingido por um PM no
Complexo do Alemão. Dona Terezinha fala português e também faz parte da “turma
simplória” sobre a qual falou o cantor do rádio. Pobre Dona Terezinha pobre.
Será que ela também se indignou por não poder ir ao show de jazz na Europa? Não
importa. Eu me indignei por ela. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyKi9r_KCMU0MW_7w4bOjqubqyUwAaaM6DeQcNiHNAm9FSlt27ADpP91m9Kvj6Eb3cTm9peLIMFPMNm4D5Xc9miRAVBsFfnZs2HEgtTRRgu0hl155WZK7Q4d97HdSSVAqjsMFh87-wc1U/s1600/download.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyKi9r_KCMU0MW_7w4bOjqubqyUwAaaM6DeQcNiHNAm9FSlt27ADpP91m9Kvj6Eb3cTm9peLIMFPMNm4D5Xc9miRAVBsFfnZs2HEgtTRRgu0hl155WZK7Q4d97HdSSVAqjsMFh87-wc1U/s1600/download.jpg" height="179" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Poracaso.com</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Muitos adolescentes se enfezaram
com o discurso do cantor do rádio. Ora, eles são apenas adolescentes, ouvindo
música e deixando o cabelo crescer por cima das ideias. Por que não podem
viajar pra Europa e pedir um Manuel? Ouvi dizer que querem reduzir a maioridade
penal para 16 anos. Disseram isso em alto e bom português. E daí? Contanto que
os fãs daquele cantor que apareceu no rádio possam matar a saudade do Brasil
quando estiverem em Paris, tudo bem. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Às vezes, a minha capa verde e
amarela me aperta um pouco. Esse cheiro de naftalina impregnado no seu tecido
me dá dor de cabeça. Mas um filho teu não foge à luta e, então, cá estou, hino
nacional a punho, com muito orgulho, com muito amoooooor. Vou guardar a minha
capa dentro de alguns dias, logo que o auê passar. Mas, oh: se aparecer qualquer
coisa pela qual precise me indignar, me chamem! Coloco a capa de volta,
brasilindo que sou, e saio por aí cantando Imagine: I’m a dreamer...</span> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-35341531131505796622015-04-05T10:58:00.001-03:002015-04-05T11:02:21.265-03:00O menino Jesus<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje é Páscoa: dia da
Ressurreição. Para os católicos, renasce Jesus. Dona Terezinha, lá do Complexo,
também é Jesus: com documento passado e assinado em cartório. Dona Terezinha,
lá do Complexo, também perdeu o seu menino numa quase sexta-feira da paixão.
Virão Natais, virão novas Páscoas, virão quartas de cinzas e quaresmas, mas o
menino da Dona Terezinha não estará com ela depois desse domingo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje é Páscoa: dia de comprar
chocolates e presentear as crianças. O menino da Dona Terezinha também era
criança, também gostava de chocolates e quem sabe até já acreditou em coelhos
de páscoa. Será que Dona Terezinha, doméstica, mãe, além de economizar os 200
reais do curso de informática, teria comprado um ovo de chocolate e escondido
na sua casa pequena, lá no Complexo? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvmWFSsuGaSuG9YygNj3M06SB1QQBFbeoJ5cUPejD4jBUMllMh7CEzX9c_OAkhY8LFC_X8VtiNlVEx100z0-B6Jcv7Lr0tS_v-GGknb1Mdzb9GO12ISQrpbcJw0DNv7aZu81iCX1GF1R4/s1600/17320783.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvmWFSsuGaSuG9YygNj3M06SB1QQBFbeoJ5cUPejD4jBUMllMh7CEzX9c_OAkhY8LFC_X8VtiNlVEx100z0-B6Jcv7Lr0tS_v-GGknb1Mdzb9GO12ISQrpbcJw0DNv7aZu81iCX1GF1R4/s1600/17320783.jpg" height="212" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">ReproduçãoFacebook</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje é Páscoa. No Brasil inteiro,
há gente chorando ao assistir encenações religiosas. Dona Terezinha, a mãe do
Eduardo, que mora lá no Complexo, também chora. Mas o choro da Dona Terezinha
não termina quando acaba o ato e chegam os aplausos. Dona Terezinha não tem nada
o que aplaudir. Não há encenação alguma em seu drama. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje é Páscoa. Amanhã é
segunda-feira de uma semana qualquer. Todos se esquecerão do domingo, dos seus
bacalhaus e suas missas. Para a Dona Terezinha, mãe do menino Dudu, essa é a
primeira segunda-feira de todas que virão: com um “eu te amo” faltando no seu
whatsapp e uma lembrança triste bem em frente ao seu portão. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em todos os anos, repetem-se a
Páscoa, a Sexta-Feira e os sábados de aleluia. No Complexo, que é a casa do
menino Dudu e sua mãe, Dona Terezinha, repetem-se, todos os dias, uma guerra
silenciosa em que, muitas vezes, só há um lado na briga: armado, apoderado,
cruel.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Façamos encenações nas ruas de
pedra. Façamos teatros e choremos nossas cruzes. Não vamos deixar que se
esqueça o sofrimento dele, que morreu por muitos. Passemos adiante: o menino
Dudu não está nessa Páscoa, nem estará nas outras que virão. Que toquem os sinos
de todas as igrejas e espalhem o recado: não há mais o menino, que também era
Jesus, mas há muitos Judas e muitíssimas pessoas que apenas lavam as suas
(nossas) mãos.</span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-27592788643143733112015-03-20T18:29:00.001-03:002015-03-21T09:29:10.143-03:00Onde moram os infelizes? <div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%; text-align: justify;">Felicidade.
Para a Wikipédia, um estado durável de plenitude e satisfação.</span><span style="background: white; color: #222222; font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%; text-align: justify;"> Para Vinicius e Tom, uma coisa louca e,
claro, delicada também. Para o filósofo Demócrito, ética. Para o meu sobrinho
de dois anos, chocolate e uma fantasia de algum super herói. Já para o meu avô
de 92, um café forte e um cochilo depois do almoço. O Guimarães disse que ela
se acha em horinhas de descuido. Enquanto, para o Drummond, ela é o caminho –
com pedras ou não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background: white; color: #222222;"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Talvez o pai de todos os clichês seja o que
diz: a felicidade está nas coisas simples. Sorriso banguelo de criança. Bolha
de sabão. Domingo de chuva. Sábado de sol. Abraço de mãe. Grilo verde na
janela. Cheiro de pipoca. Segunda-feira de feriado. E por aí vamos. Mas, se é
assim tão fácil encontrar a tal felicidade, por que existe tanta gente infeliz
nesse mundão?</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No Brasil, 7,2 milhões de pessoas passam fome.
E não. Não aquela fome que a gente sente entre o almoço e o jantar. Fome mesmo.
Dessas que até dói o coração só de imaginar. Essas pessoas passam dias inteiros
sem comer absolutamente nada pelo simples e único fato de não terem condições
financeiras. Elas vêem muitos sorrisos banguelos de criança, muitas bolhas de
sabão que fogem dos condomínios, muitos sábados de sol e grilos verdes. O que
mais querem?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje, dia Internacional da Felicidade, pensei
em levar uma fantasia do homem aranha pra cada uma das crianças que fazem parte
desses 7,2 milhões de pessoas. Cheguei a colocar no micro-ondas, 7,2 milhões de
pacotes de pipocas e distribuir o cheirinho bom pra cada uma delas. Levei o café
do meu avô e pedi à minha mãe – que tem o melhor abraço que conheço – pra ir lá e
abraçar todo mundo. Nada adiantou: nem grilo verde, nem feriado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Para o Ricardo Alves, lá do interior de Minas, felicidade
é ter um amor, a mãe por perto, amigos e um pouquinho de dinheiro que,
convenhamos, não faz mal a ninguém. Já para a Sarah Gonçalves, ser feliz é ter
liberdade: de amar, de ir e vir, de viver. O Juninho Moreira, entre uma piada e outra,
diz que feliz mesmo é quem tem dinheiro e mulher. A Isabela Azi acredita que o
que faz feliz é a família, a realização profissional e o amor. A Samylla Mol acredita
que o segredo está no entusiasmo: sentir-se pulsar. E a Maisa dos Anjos fica
feliz com internet, comida e cama, por que não?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não há duvidas de que os 7,2 milhões de brasileiros
também desejam amor, amigos, a mãe por perto, liberdade de ir, vir e viver,
realização profissional, entusiasmo, cama e internet. No entanto, para essas
pessoas, o clichê é ainda mais comum: eles, antes de tudo, querem ter o que
comer. E talvez isso já seja ser feliz. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje é o Dia Internacional da Felicidade.
Pensei em escrever um texto desses cheios de poesia, mas minhas palavras ainda
não podem se render ao lirismo e suas métricas complicadas. Minhas palavras são
tão simples quanto esses brasileiros. Seja feliz! Mas não se esqueça que outros
7,2 milhões de gente como a gente não o são.</span></span> </div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-17320936002025710172015-03-17T16:46:00.000-03:002015-03-17T16:47:05.022-03:00¿Contra quién protesta Brasil? *<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">El 15 de marzo de 1964 se iniciaba el régimen militar brasileño. A partir de esa fecha, el país vivió el período más oscuro de su historia: fueron 21 años de dictadura. El 15 de marzo de 2015, 51 años después, Brasil asistió a una marcha que llevó a millones de personas a las calles. Increíblemente, una gran parte de esas personas pedía, justamente, el retorno de los militares al poder.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Las protestas ocurridas en las principales ciudades brasileñas el último domingo evidencian una insatisfacción con el gobierno de Dilma Rousseff (PT), re-electa presidente del país en octubre de 2014. Sin embargo, para comprender el movimiento de forma efectiva, es necesario tener en cuenta una serie de factores, que casi nunca están citados por la gran prensa brasileña e internacional:</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>A. El perfil de los manifestantes:</strong> el gobierno de Rousseff, así como de su predecesor y también petista Luis Inácio Lula da Silva, es el responsable por la creación y mantenimiento de medidas de combate a la desigualdad social en Brasil. A través de las becas y programas de reparto de ganancias, el gobierno logró disminuir significativamente la pobreza, permitiendo, así, que millones de personas tengan, hoy, oportunidades antes restrictas a una parcela mínima de la población. No es secreto que ese avance de la llamada "nueva clase media" incomoda a millares de brasileños que, constantemente, en sus perfiles de las redes sociales, se quejan de que "ahora todos pueden viajar en avión", "cualquiera tiene la posibilidad de frecuentar la universidad", o, el dicho más común, "es imposible encontrar gente para trabajar como doméstica, ya que ahora todos ganan plata del gobierno". Es evidente que la motivación de las últimas protestas no es solamente esa insatisfacción en relación a los cambios sociales. Sin embargo, es importantísimo saber que el perfil predominante de los manifestantes es, sí, el del hombre blanco y rico.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>B. La actuación de la prensa:</strong> Mucho se sabe de que los dueños de los principales medios de comunicación de masa en Brasil son contrarios a los gobiernos de Lula y Dilma. Sin embargo, después de las últimas elecciones, esa posición se tornó aún más evidente. Luego de que empezaron los rumores sobre las protestas del 15 de marzo, la prensa brasileña se transformó la "agenda del movimiento", divulgando diariamente la programación de las protestas e, implícitamente o no, invitando a las personas para que participen de las acciones. Es fundamental entender también la constante tentativa de los medios brasileños de crear una especie de pánico general, tratando la información de una forma completamente imparcial, que lleva a creer que Brasil vive los peores momentos de su historia: política y económica. Lo que, seguramente, está lejos de ser verdad.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span class="easy_img_caption" style="background-color: #f2f2f2; display: inline-block; line-height: 0.5; margin: 5px; vertical-align: top; width: 550px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><img alt="Con carteles en inglés y alemán, manifestantes piden ´intervención militar´" src="http://reporteplatense.com.ar/images/stories/2014-01/intervencion2.jpg" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px;" /></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>C. Rousseff y PT:</strong> El odio al Partido de los Trabajadores (PT) estuvo presente en la mayoría de las pancartas divulgadas en la marcha del domingo, que constantemente asociaban el partido con la corrupción en el país. La corrupción en Brasil – así como en otras naciones latinoamericanas – es real y preocupante. Pero lo que muchos parecen desconocer es que ese problema existe desde el principio de la historia del país: se profundizó durante el gobierno militar y siguió después en los años de neoliberalismo y del petismo. Sin embargo, fue en el gobierno Lula, en lo llamado "mensalão", que pasaron a investigar el tema. Además, el juzgamiento de los políticos denunciados de "corruptos" con sustento, ocurrió por primera vez en Brasil durante el primer mandato de Rousseff. Otro factor interesante, por así decir, es la tentativa de aproximar el PT al comunismo. En las protestas, fueron comunes frases que decían: "Brasil no va a ser una nueva Cuba", "Fuera comunismo!", "SOS intervención militar". Relacionar el Partido de los Trabajadores al comunismo es mostrar una ignorancia en relación al partido y, principalmente, al comunismo en sí mismo.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>D. El avance fundamentalista en Brasil:</strong> El movimiento ocurrido en el último domingo tiene por detrás varias posibles figuras protagonistas: una empresa petrolera norteamericana; el candidato derrotado Aécio Neves; la principal red televisiva brasileña, la Globo. Sin embargo, quién protocoló el pedido de impeachment contra la presidenta Dilma es el diputado Jair Bolsonaro (PP). Bolsonaro, es uno de los políticos más votados en las últimas elecciones, es la cara del fundamentalismo religioso en Brasil. Declaradamente homofóbico y conservador, el diputado va en contra los derechos humanos constantemente. Evangélico, es conocido por defender el retorno del régimen militar y por creer en la tortura como práctica legitima. Es enorme el gran número de personas que siguen a Bolsonaro. En la protesta, estas salieron con cartones de "No al aborto legal", "No a la unión homoafectiva", entre otras declaraciones que parecen no pertenecer al siglo XXI.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Las protestas en Brasil no son un fenómeno aislado. Al contrario, el hecho parece hacer parte de las movidas desestabilizadoras que hay actualmente en América Latina. Sería de mucha coincidencia que los brasileños (o, por lo menos, 1% de los brasileños) resuelvan salir a la calle al mismo tiempo en que el gobierno de Nicolás Maduro, en Venezuela, recibe duras declaraciones de los Estados Unidos o que el gobierno de Cristina Kirchner, en Argentina, es acusado de encubrir a los responsables de acciones terroristas ocurridas hace más de 20 años atrás.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No es nada irracional creer que la América Latina pasa por un momento de fortalecimiento de la extrema derecha, que intenta retomar el poder con el apoyo norteamericano. No es fantasía. Tampoco es la primera vez que eso ocurre. Lo que sí parece increíble es que un sector social salga a marchar por voluntad propia, pidiendo el retorno de los militares para mantener la democracia. "El discurso del odio", ¿qué lo podrá apagar?</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>* Texto publicado no jornal argentino ReportePlatense em março de 2015.</i></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-21707233718311371852015-03-14T18:46:00.002-03:002015-03-14T22:03:05.823-03:00A revolta das panelas<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Seus gritos ecoam pelos condomínios. O soar de
suas panelas acostumadas ao sossego de domingos fartos confunde o silêncio rigoroso
de todas as noites. Os palavrões que
saem de suas bocas tão profundamente bem educadas parecem contradizer a finesse
da classe. A chuva de nacionalismos que jorra de quem nunca acreditou no país
denuncia que, ali, dentro daqueles muros, pouco se sabe sobre o que faz o
Brasil. Contraditoriamente, eles não economizam nas bandeiras e nas camisas da
seleção, ufanistas desde criancinhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A mídia bate-panelas, tão acostumada a
enquadrar a realidade do seu próprio modo vesgo, faz com que eles acreditem que são a
maioria; que seus condomínios são as ruas de todo o país; que a sua crença não
só é a mais certa, mas a única possível; que eles devem ser os heróis de um
país à beira do caos. Caos. Para evitar esse perigo iminente, eles sairão a
marchar, como um exército de escolhidos. Afinal, eles têm a sabedoria. E sempre
a tiveram, desde os tempos de eleição. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ao badalarem os sinos, os portões de cada
condomínio fechado se abrirão. Cada mão segurará democraticamente o seu cartaz
escrito em inglês. Cada coração verdeamarelindo declarará seu ódio pelo
vermelho assustador. Cada consciência desfilará tranqüila pela cidadania
exercida e pelo sapato sujo com barro de rua pela primeira vez. Levarão água e
barra de cereais. Light. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Afinal, o que eles querem? Defender uma
democracia oligárquica que deslegitima toda uma eleição? Garantir que sejamos
todos iguais, mas uns caetanamente mais iguais que os outros? Acabar com uma
corrupção que, embora real e visível, só começou a ser investigada de fato nos
anos vermelhos do Brasil? Ou será que, de repente, defender as empresas
nacionais virou página importante na bíblia que alimenta essa fé, tão certa e
direita? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Afinal, pelas barbas de Fidel, o que eles
querem? Impedir que o Brasil se torne Cuba e que, de repente, todos comecem a
fumar os charutos que eles se presenteiam no Natal? Acabar com essa história de
bolsa esmola disso e daquilo, para que o brasileiro finalmente aprenda a pescar
sua própria sardinha? Ou será que eles estão com medo do golpe comunista que o
fantasma do Jango trouxe na última sexta-feira 13? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #292f33;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background: white; color: #292f33;">Eles. Nós, não. Desse lado, o que bate o
coração (valente, por que não?), o ódio fala mais baixo, quase em sussurros. Escolhemos
nosso nome cinco meses atrás. E e</span><span style="color: #333333;">scolher é se mostrar, é dar a cara a tapa, é defender uma utopia (ou uma
vontade, que seja). Há, de fato, os que escolhem por interesses mesquinhos,
individuais, hipócritas. Mas há, sobretudo, os que escolhem porque acreditam,
porque esperam, porque querem fazer parte da construção de uma história melhor.
Há os que escolhem porque sonham, com os pés no chão e as panelas no fogo,
vigilantes. E sonhar, ao contrário do que eles imaginam, não é deixar de
criticar. Mas é, sim, saber por que e como fazê-lo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Que me perdoe cada brasileiro que está tirando as panelas do armário pela
primeira vez. Defendam seus ídolos fanáticos, apontem seus dedos cheios de
razão, clamem pelos militares e chorem por toda a nossa corrupção, tão novata. Amanhã,
a rua é de vocês. Nos outros 364 dias do ano, ela é nossa. Povo que somos. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-9223064454653001562015-01-26T11:33:00.001-02:002015-01-26T11:34:39.833-02:00 Después del Lago Titicaca: una historia de fronteras*<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Documentos, equipaje, inspecciones y permisos: la burocracia tal vez sea el talón de Aquiles de todo viaje. Para quien viaja por tierra en Latinoamérica el gran talón es el momento de cruzar las fronteras entre los países y pasar por la revisión inmigración. Ese tipo de viaje, por ser económicamente más accesible, permite que un gran número de personas, de clases sociales y culturas diversas, circulen entre los países latinos todos los días. Todo eso genera una contradicción estructural: de un lado, los tratados de cooperación entre naciones latinas que permiten la libre circulación de personas en países sudamericanos; por otro, la actuación del Estado, que intensifica la vigilancia en las fronteras con la intención de combatir el tráfico de drogas y de otras mercaderías ilegales.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">La oficina boliviana de migración, oficialmente llamada de Control Desaguadero en Bolivia, es una de las más polémicas. El Control es parte de la ruta Perú – Bolivia, tradicional destino de quien viaja por tierra en la América Latina, y aparece constantemente en blogs de diarios de turistas como escenario de historias de maltratos a viajeros y de acciones de corrupción. El edificio, antiguo y despintado, no es grande, pero son decenas de personas las que se acomodan allí, a la espera de recibir la autorización de entrada en el país. Los funcionarios no son muchos y, por eso, las colas son casi siempre grandes y lentas. Se hacen al aire libre y no son raras las veces en que los viajeros tienen que esperar que los atiendan bajo la lluvia o sol fuerte.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Benjamín Guevara, Sebastián de Paz y Marcelo Rueda, tres jóvenes deportistas colombianos de veinticinco años, estuvieron en la oficina boliviana en abril de 2014, durante el viaje desde Colombia hacia Brasil con destino al Mundial de fútbol. Fueron sorprendidos por el tratamiento hostil en la frontera y conocieron de cerca algunos de los problemas en límite boliviano.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.2000007629395px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- ¡Colombianos, saquen la cocaína de la mochila! ¡Ah, no, quiero decir, saquen sus COSAS de la mochila y acuéstense en el piso!</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.2000007629395px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">El oficial revisó cada pieza de ropa y cada objeto que componía el equipaje de los tres chicos. Sin embargo, eso no pareció ser suficiente.</span></span></div>
<br />
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">-Se dieron cuenta de nuestro acento colombiano y luego cambiaron el trato con nosotros. Era una situación embarazosa: estar en el piso como criminales.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">-Ahora muéstrenme que trajeron plata. No se puede entrar en Bolivia con menos de mil dólares. Necesito ver los billetes y saber que ustedes no planean hacer nada ilegal en el país.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Después de mostrar el dinero ahorrado durante tres años de trabajo y, por fin, obtener el permiso de entrada en Bolivia, era hora de comprar los pasajes y seguir hacía La Paz por la ruta nacional. Tomaron un taxi y, mientras seguían, el camino daba la sensación de ser un gran círculo repetitivo y desierto. El auto frenó repentinamente, dibujando de negro el asfalto. El taxista desató su cinturón de seguridad y, sin mirar para atrás, sacó un revólver de la cintura para volver a guardarlo pronto.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">-Soy policía y estoy en una búsqueda por traficantes de drogas – dijo y mostró un carnet arrugado y envejecido, con el símbolo de la Policía Federal de Bolivia – Necesito revisar el equipaje.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Con las bolsas apiladas en el asiento delantero, el conductor siguió el camino en silencio. En cuestión de minutos, el coche se detuvo y otro hombre subió al vehículo. Se presentó como un oficial de policía, mostró su arma y folleto, tal cual había hecho el chofer. Revisó las valijas y los tres pasaportes.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">-Ustedes no son aquellos que estamos buscando- gritó el conductor, frenando el auto mientras el segundo policía tiraba las mochilas por la ventana.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">En cuestión de segundos, el taxi ya estaba lejos. Los dos hombres se habían llevado la plata que tenían. Marcelo, Sebastián y Benjamín decidieron volver a la oficina de la migración y buscar ayuda de algún oficial. Esta vez, fueron encaminados a un lugar aún más chico, donde esperaban cerca de veinte personas más. Eran alemanes, israelíes, otros colombianos, brasileños y franceses. Todos ellos habían sido robados de la misma manera, por agentes conductores de taxis. El personal de la policía turística repitió el mismo discurso a todos los viajeros:</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">-Nuestro teléfono no funciona y no podemos hacer nada. Ustedes tienen que llamar a la embajada de sus países y buscar ayuda ahí. Aquí, no hay nada que hacer más que presentar una queja.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">El miedo, compañero constante durante todo el día, llevó a una revuelta y una enorme frustración. La única voluntad era salir lo más rápido de Bolivia. Benjamín, Marcelo y Sebastián caminaron hasta la terminal de la ciudad, lejos de la oficina. Allí, pidieron dinero para otros turistas, repitiendo la historia del asalto tantas veces fuera necesarias. El documento emitido por la policía de migración ayudó a demostrar que estaban diciendo la verdad y que la intención era juntar plata, comprar los pasajes hacia La Paz y tomar el primer micro que saliese de Bolivia.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Yo nunca pedí dinero en toda mi vida, pero con la ira y la desesperación que tenía, en ese momento, lo que menos quería estar en ese país.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">La solidaridad de las personas que donaron sus monedas y de los empleados de la empresa de autobuses que dieron un descuento en el precio del pasaje hizo que la estadía en Bolivia durase solo un día. En la misma noche, los tres colombianos siguieron para La Quiaca, la frontera entre Bolivia y Argentina. En la Argentina, llamarían a sus amigos y familia, y juntarían dinero para volver a Colombia. El sueño de ir al Mundial quedó sin cumplir.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nunca se supo si los asaltantes son o no verdaderos policías, pero quien busque en relatos disponibles online, verá que no son pocas las historias idénticas a la de Benjamín, Marcelo y Sebastián en la frontera boliviana. Sin embargo, en la gran prensa internacional, no hay ningún relato de ese tipo. Cuando se escribe sobre las fronteras latinas, el foco siempre es la actuación del Estado en vigilar quien y lo que cruza la frontera, sin reflexionar sobre los métodos utilizados y sobre a falta de rigor en vigilar también a sus propios oficiales.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">La frontera entre Bolivia y Argentina, el Control en La Quiaca, también es el destino de millares de viajeros todos los días y, así como Desaguadero, tiene históricos de problemas entre oficiales y turistas.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Yessid Idrobo y Caren Castro cruzaron la frontera entre Argentina y Bolivia en junio de 2014. El es periodista. Ella es socióloga. Los dos viajaron a la Argentina con la intención de especializarse. Hicieron un viaje por tierra desde Perú para conocer el Lago Titicaca y el centro de Bolivia. En la frontera, pasaron por momentos difíciles.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Nos trataron a todos como delincuentes. Nos hicieron sacar todo de las valijas y acostar en el piso. Preguntaron hasta por qué no llevamos ropa de frío... La verdad es que los oficiales hacen todo un teatro para encontrar una forma de pedir dinero. Es mucha corrupción y estigmatización.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.2000007629395px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">En la oficina, los atendió un tipo obeso, que no se levantó de la silla de madera en que estaba sentado en ningún momento de la conversación.</span></span><br />
<span style="line-height: 19.2000007629395px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.2000007629395px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- No puedo darles el sello de salida de Bolivia sin saber que ustedes tienen el permiso de entrada a la Argentina. Está muy complicado entrar allá, ya que los inmigrantes han causado muchos problemas.</span></span><br />
<span style="line-height: 19.2000007629395px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Caren y Yessid caminaron entonces unos metros hacia la oficina de la policía argentina y llegaron a un lugar chico, sin sillas. El oficial, vestido con pantalones y chaquetas verdes, revisó todo con tranquilidad.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Necesito ver cuánto de dinero llevan ustedes. Me imagino que saben que no se puede entrar en la Argentina con menos de 1500 dólares cada uno...</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Nosotros no tenemos toda esa plata...</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Pero si ustedes vienen a estudiar acá, seguramente van a gastar más de 500 dólares por mes. ¿Cómo van a sobrevivir si no llevan dinero?</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Nuestra familia nos manda plata por transacción. No quisimos viajar con mucho porque puede ser peligroso. Supimos que los robos en las fronteras son comunes. Mejor no correr el riesgo.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- En este caso, necesito ver el visado de permanencia en la Argentina.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- No lo tenemos. Planeamos hacerlo cuando lleguemos allá.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Lo siento, pero no puedo dejarlos pasar. Los quiero ayudar, pero son las reglas...Si los dejo entrar, estaré cuestionando la soberanía de la Argentina.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">La solución fue, por lo tanto, dormir en la frontera y intentar la suerte en el otro día. Ni bien amaneció, la pareja ya estaba otra vez en la oficina de la migración argentina. Todavía no había cola y ya era otro oficial el encargado de las revisiones. El hombre, aún joven, inspecciona la documentación y libera la entrada, sin mayores preguntas.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Con el pasaporte debidamente sellado por la migración argentina, Yessid y Caren llegan a la oficina boliviana. Todavía es necesario obtener la firma de salida del país. El oficial no es el mismo del día anterior, aunque tenga las mismas ropas y la misma forma de hablar:</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- ¿Entonces ustedes lograron el permiso para entrar en la Argentina, no? ¿Eso es porque son buenos ciudadanos o porque les pagaron mucha plata?</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sin contestar la pequeña gran ironía, Yessid y Caren siguieron viaje con una duda: ¿será que en las fronteras bolivianas las reglas cambian del día para la noche?</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">* Texto publicado no jornal Reporte Platense em janeiro de 2015</span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-1873427931547334292014-11-25T23:20:00.000-02:002015-01-16T18:32:47.531-02:00Aquele abraço! <div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
La autopista que conecta Buenos Aires con el ingreso sur de la ciudad de Rosario se llena de autos en la medida en que se acerca el CityCenter. ¿Todas esas personas decidieron ir al casino en la misma hora? Domingo de lluvia, noche ideal para hacer apuestas y probar la suerte en una de aquellas maquinitas que toman el dinero de quién insiste en creer en el suceso del próximo intento.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<span style="line-height: 19.2000007629395px;">– ¿Sabes por qué el lugar está tan lleno de gente?</span></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
– Todos vinieron por el show de hoy. ¡Yo también vine por eso! – Dijo la señora de sombrero largo sin esconder la ansiedad para lo que estaba por venir.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
El casino más grande de Latinoamérica no es la estrella del día. Todas aquellas personas – jóvenes vistiendo camisetas de equipos de fútbol, mujeres con sus adornos y joyas finas, hombres de traje, chicas con celular en la mano para tomar la mejor foto – esperan por el show de Caetano Emanuel Vianna Telles Veloso, Caetano Veloso, el brasileño Caê.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
Caetano llegó con su ropa tradicional, compañera de todas las presentaciones del show Abraçaço: una camisa gris, pantalones jeans y zapatillas negras y blancas. La sencillez de la vestimenta del cantante parece contradecir la complejidad de su voz, capaz de alcanzar los tonos más altos sin desafinar cualquier momento.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
"Estoy muy feliz por estar otra vez en Rosario. Con Pedro (guitarrista) ya estuvimos aquí. Ricardo (bajo) y Marcello (batería) están por primera vez. Así que, para mí, es una alegría multiplicada". Multiplicando entonces su alegría y ritmo bahiano, Caetano volvió al palco de Rosario después de 16 años y presentó algunas de sus clásicas canciones seguidas de los nuevos hits del álbum Abraçaço. De una manera teatral, el bahiano bailó a su modo tropical y amenazó desabrochar su camisa para volver a cerrarla luego.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
Mientras en el palco se mesclaban rock, samba y axé en un tipo de experimentalismo genial, tres chicos en el público exhibían camisetas de Fluminense, el equipo de fútbol de Caetano. En la otra esquina, una mujer insistía en traducir los trechos de las canciones para su novio, que escuchaba el gracioso portuñol: "Leãozinho quiere decir leoncito, que es algo parecido a un jaguar...", dijo ella entre sonrisas. Un poco más adelante, un señor se aventuraba a toda la tecnología de su teléfono, intentando sacar el flash de la cámara y para dejar de cegar a los demás con toda su luz.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
En mi bolsillo izquierdo llevaba una bandera de Brasil. Estar allí, por primera vez cerca del cantante brasileño, era como estar cerca de todo el país, viendo las caras de mi gente en la poesía de Caetano Veloso. La timidez que, hasta el momento, me había impedido de sacar la bandera, se fue cuando la trayectoria de Carlos Marighella, militante muerto por los militares en la dictadura, ganó voz a través de la canción "Um comunista". Armado con su guitarra, Caetano repitió diversas veces el mensaje del activista brasileño: "una vida sin utopía, no entiendo que exista, así habla un comunista... Así habla."</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
Fueron una, dos, tres despedidas. Una para cada regreso de Caetano al escenario. Después de más de veinte canciones, encendieron las luces del salón y se terminó el gran abrazo a Rosario.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
En la salida, la señora de sombrero caminaba más despacio que de costumbre. Encontró de vuelta a la chica que le había preguntado sobre el show y no se contuvo en decirle algo más.</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
– Hoy es mi cumpleaños. Soy fan de Caetano Veloso desde que el empezó su carrera hace cuarenta años. Estaba triste por no haber conseguido los ingresos para el show y, hoy, mis dos hijos fueron a mi casa y me regalaron una entrada. Hoy es mi cumpleaños. ¡El mejor que tuve en mi vida!</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
–¿Y que tal Caetano?</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
– ¡Un bombón!</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 19.2000007629395px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.5em; text-align: justify;">
Así salimos – yo, la señora de sombrero rojo, los chicos con la remera de Fluminense, la mujer traductora, el hombre que todavía no sabe usar bien su teléfono y todos que estuvieron allá – abrazados por la utopía y por el abraçaço bahiano-brasileño de Caetano Veloso. Como canta su compañero Giberto Gil, ese fue, ciertamente, "aquele abraço!".<br />
<br />
* Texto publicado no jornal argentino "Reporte Platense" em novembro de 2014.</div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-32777787043393449172014-09-23T16:16:00.001-03:002014-09-23T16:21:19.322-03:00Retratos de Gaveta: histórias do interior de Minas<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Bastidores</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><u><span style="line-height: 115%;">Retrato 1:</span></u></b><b><span style="line-height: 115%;"> Dona Dionísia, Piranga - Mariana <o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quinta-feira. Sol quente e céu azul.
Mochila nas costas. Bloquinho e gravador nas mãos. Saí do centro histórico da
cidade em direção ao bairro São Pedro, à procura de uma ruazinha escondida
entre a estrada que leva até a BR e a que leva ao Hospital público. O morro é
comprido, as casas não têm números, nem campainhas. As portas estão, quase
todas, destrancadas. As janelas, muitas vezes cobertas de papelão ou pano, não
têm trincas. Bati na porta da terceira casa, como orientou o rapaz da venda mais próxima.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">– É aqui que mora a Dona Dionísia? Repeti alto para que a senhora que me recebeu pudesse ouvir. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">– Não. A Dionísia mora naquela casa
ali, sem pintar... <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">Nas
outras janelas, os vizinhos se amontoavam, olhando com curiosidade a estranha visita. Subi uma pequena escada que dá para uma porta aberta. Não esperei muito, até que uma senhora com um lenço florido na cabeça apareceu com um ar
desconfiado, limpando as mãos num avental branquíssimo, rasgado nas pontas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Dona Dionísia? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- É ‘ieu’, sim. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Vim aqui conversar um pouco, a
senhora está ocupada?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Não estou, não, filha. Entra aqui
pra dentro, pode sentar aí. É uma alegria! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E, depois de um abraço desses largos,
como se fôssemos velhas conhecidas, mostrou um pequeno sofá, numa sala improvisada
na entrada da casa. Sem saber ao certo o que dizer, com toda a inexperiência
que trazia de brinde, perguntei sobre os gatos de estimação que dormiam por
ali, contei que estava procurando boas histórias e que queria ouvir a dela. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Tenho um filho que é poeta...
Agora, ele está trabalhando como catador de papel, mas, daqui a pouco, ele
chega. Eu sei histórias também, sei cantigas, mas o Zé, meu filho que é poeta,
sabe umas mais bonitas que eu. Você não prefere?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Expliquei que eu queria ouvir sobre a sua infância, juventude, sobre os filhos, os amores, as alegrias... <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Então, você quer que eu fale da
minha vida?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Quero.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Mas isso é uma alegria! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com as mãos no rosto, sentada ao meu
lado, Dona Dionísia começou a cantarolar alguns versos que repetiria muitas
vezes ao longo das entrevistas-conversas e desarmou, com palavras simples e uma
coreografia quase infantil, qualquer insegurança dessas que chegam em todo
começo e encontro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Três tardes de agosto. Sempre a mesma
cortina improvisada com um pano vermelho cobrindo a janela. Os gatos cochilavam
sobre o armário, indiferentes. Do quintal do vizinho, aquele cheiro de lenha
queimada coloria, de cinza, o céu azul e a parte de trás da igreja. Entre
cantigas populares e orações, relembramos 88 anos que construíram aquela
senhora sentada na cadeira, com suas mãos enrugadas e olhos distantes. De tudo:
– idades, pessoas, manhãs na roça, despedidas e chegadas –, o que se fez
lembrar. Entre todos os muitos dias que compõem uma vida, os bonitos e grandes
o bastante para caber no meu gravador de voz.
Dei voz e ouvidos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No primeiro dia, apresentação e
conversa. Conheci a casa e seus quatro cômodos. Os retratos pendurados na
parede emolduram um abraço dos seus que já não existem mais. Vi panelas areadas
no fogão e uma bicicleta velha, infantil, destoando do restante da casa idosa. Durante
a conversa, duas crianças – os netos – ficaram sentadas no chão. O menino, mais
velho, remendava o tênis com cola branca. A menina, pequena, brincava com uma
escova de roupas usada. Ambos concentrados no próprio mundo, alheios a tudo que
a avó contava e cantava para nós. Duas horas de conversa e a casa já tinha
cheiro de lar, tão minha quanto de todos que ali moravam: muitos. Um abraço de
despedida e a promessa de voltar no dia seguinte. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Às vezes, tenho um refrigerante
aqui em casa. Hoje, não. Nem café tem. Uma pena.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No dia seguinte, ao chegar à rua
escondida que era a terra de Dona Dionísia, eu já sabia o que encontrar naquele
presente constante: rotina certeira de um cotidiano comum. Reencontrei o meu
lugar no sofá, a cortina e os retratos – hoje, sem pó –, vi Dona
Dionísia com uma roupa engomada e os cabelos bem penteados debaixo do lenço de
seda: tão velho quanto tudo que há ali. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Ficou com saudade de mim, Dona
Dionísia?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Fiquei tanto que não tirei o olho
da rua, pensando na hora de vocês ‘chegar’! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Abraço bom de reencontro. Perguntas
em punho, gravador ligado e histórias menos alegres que a do dia anterior. A
infância, agora, não era tão boa de se lembrar, nem os maridos e filhos, tão
perfeitos. Agora seria hora de recordar os
dias menos bonitos, as humilhações entre os sorrisos de bom dia, a fome que às
vezes entrava na casinha de pau a pique. Tinha saudade. Medo, só do avião que
nunca conheceu. Lembrou o sobrenome dos pais e esqueceu a própria idade. Inventou
cantigas e repetiu outras tantas. Contou do dia em que conheceu seu Deus:
milagroso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os dois meninos continuavam no chão,
como antes. Junto a eles, dois filhos,
uma neta, um neto e uma nora de Dona Dionísia assistiam a minha
entrevista-conversa, orgulhosos da mãe-vó-sogra e do passado que ela contava. Relembraram
“causos”, descreveram os muitos lugares em que moraram, as dificuldades e as
alegrias que traziam com eles. Corrigiram datas e idades, contaram mais de 20
netos e bisnetos como novos nomes da família, relembraram os que morreram e os
que moram longe. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Canta aquela, mãe, que a senhora
cantava quando eu era pequeno...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cantaram e ouviram. Como antes. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Tarde encerrada, lembranças mais teimosas
em sair da gaveta, gravador desligado e bloquinho na mochila. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- ‘Fio’, corre ali e busca um
refrigerante, diz que depois eu passo lá. Pede pra dividir na hora de pagar. Um
só. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Indefesa ao agrado, revezei os
copos com a família e bebi o refrigerante meio suco, comprado à prestação. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Terceiro e último dia: poucas
perguntas, aquele checar de dados costumeiro e uma série de poses para a câmera
fotográfica. Fotografei os gatos no telhado e a parede sem pintura. Uma, duas, três fotos de Dona Dionísia cantando e fazendo pose
enquanto afinava a voz no “<i>quando eu era
pequenina, jogava bilboquê...”</i>. Uma foto de família com a mãe ao centro e
pronto. Trabalho feito.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Agradeci menos do que queria, sem saber
explicar ao certo o quanto estar ali havia sido bom. Mais um abraço e me levaram até a porta. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Por que ‘cê’ escolheu ‘eu’ para
contar a minha história?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Porque a sua história é especial.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Não ‘tô’ falando? A vida é boa
demais e foi é Deus que trouxe você aqui... <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Já virava a esquina e todos: Dona
Dionísia, filhos, netos e bisneta, estavam ainda acenando. </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">Quis voltar e agradecer de novo pela
confiança, pela porta e coração abertos, pelo brinde nos melhores copos da
casa. Agradecer por terem olhado para a rua para me esperar, pela boa vontade em
compartilhar a vida, pela bondade presente entre os
tijolos sem pintar que eu pude conhecer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ao deixar a rua escondida sob os pés
de moleque que dão fama à cidade, agradeci por não ter ido em frente quando
pensei em desistir de bater na porta, de subir o morro e seguir adiante.
Entendi que, a cada entrevista e retrato bonito que fizer, sairei infinitamente
menor: por sentir como uma formiguinha frente à grandeza das vidas anônimas que
nos passam despercebidas e, sobretudo, porque, em cada lugar que passar,
deixarei um pouco da minha história, que se apegará a essas gentes e vozes, presa
e liberta por cada abraço que encontrar. <span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">À noite, em casa, ouvi as gravações e
transcrevi inúmeras vezes que “a vida é boa” e o “mundo é ótimo”. Ao olhar as
fotos, gato preto e gato branco no telhado da casa, Dona Dionísia em preto e
branco do lado de dentro, na sua cadeira perto do meu lugar no sofá. Em cor, os
olhos dela ficam azulados. Na foto de família, filhos, netos, bisneta e
agregados. Todos sorriem largo. Dona Dionísia, não: em nenhuma foto e em
momento algum nessas tantas horas de uma conversa alegre, ela sorriu. Feliz.</span></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-71659082990218967832014-07-18T15:54:00.003-03:002014-07-19T13:31:32.533-03:00Qual é a mala que te define?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mala de mão. Mala gigante.
Mochilão de viagem. De couro. De plástico. Vermelha. Com listras e com
bolinhas. Há diversos tipos de malas, cada um pensado para servir a uma
necessidade diferente: uma média para quem vai passar duas semanas na praia; uma grande para o universitário que leva as roupas sujas pra lavar em casa,
como bem diz o ditado; uma mala enfeitada para os distraídos de plantão não
perderem seus pertences na hora do desembarque; uma mala gigante para aquele
que decidiu mudar de casa. Uma mala. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Talvez um dos grandes dramas
modernos – e que já possui milhões de adeptos – seja a agonia do fazer e
desfazer malas. Escolher cada peça que terá o privilégio de sair do armário e
conhecer outros cantos exige concentração. No entanto, essa agonia existe por
algo um pouco mais essencial: as malas não carregam só roupas, sapatos,
presentes. As malas carregam expectativas e, por isso, os tipos de malas dizem
muito sobre quem as carrega. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4c9-TLue0Zi_RJVNg2hLPKhSjNKgmQqwH0D3BOzgq68aO7eV2xonLmtYyiQKxpRXoPN7nvO01DB9gtW3TDhOKP-goQtoCA7yNveKMAVUsGmJJk8rU_TdYAlIn9OZvx4WkoddaqfOcroM/s1600/run-wanderlust.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4c9-TLue0Zi_RJVNg2hLPKhSjNKgmQqwH0D3BOzgq68aO7eV2xonLmtYyiQKxpRXoPN7nvO01DB9gtW3TDhOKP-goQtoCA7yNveKMAVUsGmJJk8rU_TdYAlIn9OZvx4WkoddaqfOcroM/s1600/run-wanderlust.jpg" height="195" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda me lembro da minha primeira
mala. A ocasião: uma viagem com a escola e quatro dias num balneário, curtindo
a agonia e a delícia de estar longe de casa pela primeira vez. A idade: 14
pouquíssimos anos. A mala: uma mochila da Company – sucesso na década de 1990 –
que peguei emprestado da minha irmã mais velha. Essa mala, ou mochila, como
preferirem, era descolada (na época) e representava, justamente, o começo da
minha juventude. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A segunda mala tampouco era
minha, assim de papel passado. Era uma mala de couro, meio brega, que o meu pai ganhou de presente de aniversário. A ocasião: um
congresso de jornalismo e a primeira viagem a outro estado, sem nenhum
acompanhante. A mala ainda não era minha, não tinha identidade, mas já era uma
mala e não uma mochila. Tudo mais sério. Esses tais primeiros passos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A terceira – e penúltima mala até
então – é grande, esverdeada, com cadeados e rodinhas: um sucesso! A ocasião: o
intercâmbio e a mudança temporária para outro país. Comprei essa tal mala num
shopping, com a minha mãe me acompanhando numa quase cerimônia social que
afirmava que a tal idade adulta tinha chegado de brinde. Saí com a mala da
loja, ainda embrulhada num plástico, e, enquanto exibia a conquista como uma
medalha, pensava na esperança que tinha (e tenho) de que ela me acompanhasse a
lugares lindos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A última mala foi comprada sem
ajuda de ninguém. E não é bem uma mala, mas, sim, um mochilão daqueles enormes
pra quem carrega uma vida na mochila e resolve sair por aí conhecendo sorrisos.
Depois de tantas escolhas, está eleita: essa é minha mala. Informal,
conservadora na sua rebeldia, alegre, com o medo escondido num bolso e a
coragem tomando todo o espaço restante. Colômbia, Uruguai, Cuba... América
Latina inteira. O roteiro já está definido, a mala – e a personalidade – seguem
em construção.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Afinal, qual é a mala que te
define? </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-53503367771074823862014-07-14T15:13:00.004-03:002014-07-14T15:16:21.843-03:00Alemães, fiquem um pouquinho mais!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Durante o último mês, Santa Cruz
de Cabrália, Bahia, recebeu a seleção alemã de futebol. Os jogadores dançaram com os índios, viram
novelas, falaram português, comeram farofa, gravaram vídeos, tiraram trocentas
fotos e, para completar, foram embora e deixaram de presente um cheque de 10
mil euros para que a comunidade pudesse comprar uma ambulância.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os brasileiros, por sua vez, não
economizaram elogios aos alemães. Nas redes sociais, o amor pela Alemanha
brotou com uma força tão grande que nem os sete gols puderam evitar. De tudo
isso, o que mais chama a atenção é que o brasileiro, assustado pela atitude
alemã, tenha se comovido mais com a solidariedade européia que com o fato de
uma comunidade ter que contar com a boa vontade internacional para comprar sua
própria ambulância. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Se é assim, fica o pedido:
alemães, fiquem um pouquinho mais! Não vão embora sem passar por Minas Gerais e
conhecer as muitíssimas famílias do interior que se apertam em casas minúsculas
por não terem como se mudar para outros lados. Não deixem de passar pelo nordeste
e ver como é sofrer a pior seca dos últimos 50 anos com pouca ajuda do poder
local. Passem por São Paulo, provem o pastelão e, de quebra, aproveitem para
escutar as histórias que andam circulando nos metrôs, entre uma encoxada e
outra. Voltem ao Rio de Janeiro, onde receberam a taça, e observem o quão
violenta pode ser a nossa polícia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Alemães, o Brasil tem um coração grande
e possui uma desigualdade social ainda maior. Nosso Estado, que é um dos mais
ricos da América Latina, não consegue enxergar que a comunidade em Santa Cruz precisa
de uma ambulância ou que, em Roraima, o sul do estado anda sofrendo com uma
situação quase à beira do caos. O nosso
Estado que, esse ano assistirá e participará das disputas eleitorais, se sente
tão orgulhoso das boas mudanças nos últimos 12 anos que parece se esquecer que
ainda há muito o que fazer para acabar com a pobreza no país. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Estamos a poucos meses das
eleições. Alemães, fiquem um pouquinho mais e convençam o Podolski a sair por aí
lembrando a cada cidadão o sentido de ser brasileiro. Não vão embora, alemães,
até que possamos dizer “Não, muito obrigado” a qualquer presente como o cheque
que vocês deixaram e que, para quem entende que nem tudo é futebol, doeu (bem) mais
que os sete gols que vocês fizeram contra a nossa seleção.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-8275856745212056452014-01-29T20:47:00.001-02:002014-07-08T12:34:58.855-03:00Maria de um tal João<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“É com muito prazer que lhe
devo a honra de vir aqui ‘de frente’ aos meus compadres e amigos, com toda
fidelidade, pra pedir a mão de sua filha em casamento para que possamos
compartilhar o dia a dia.” Após seguidas semanas de ensaio, foi esse o discurso
que os convidados de Maria de Fátima Gentil Soares ouviram no dia do seu
noivado. Fatinha, como é conhecida, escutou
o pedido de casamento no rádio e fez com que o candidato a noivo João Bosco, o
Joãozinho, repetisse as frases feitas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB_27ztM4NUi62s4a6awg4YC4Cbz4jLAma9UGtbil_DMB5yiAPec07EB5TJl753rSbm20OoP8rCK8A3AMhMa-3kbmYnO9L2dgSn32odTqRQyCNdlUyd_EQWs_ZINRppbqewyHfzxdBmlA/s1600/7511241556_1d6b553c59_o.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB_27ztM4NUi62s4a6awg4YC4Cbz4jLAma9UGtbil_DMB5yiAPec07EB5TJl753rSbm20OoP8rCK8A3AMhMa-3kbmYnO9L2dgSn32odTqRQyCNdlUyd_EQWs_ZINRppbqewyHfzxdBmlA/s1600/7511241556_1d6b553c59_o.jpg" height="320" width="213" /></a><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Assim como a história dos personagens homônimos do conto
dos “Irmãos Grimm”, o noivado de Joãozinho e Maria de Fátima foi bastante
singular: ela tinha apenas doze anos e o noivo, treze. Ambos moradores de São
Pedro dos Ferros, interior de Minas Gerais, Fatinha e Joãozinho começaram a
namorar no dia em que se conheceram, na capelinha da cidade. “Quando ele saiu
da capela e me deu um beijinho no rosto, pensei: Opa! Vamo namorar!”, relembra.
A partir desse dia, Fatinha começou a juntar todo o dinheiro que ganhava
vendendo abóboras para comprar o bolo do seu noivado e uma garrafa de
refrigerante – foram necessários três meses pra conseguir a tal quantia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Pela pouca idade da filha, o “Sô” Manoel e a Dona Rita
não aprovaram a decisão que viria apenas seis meses depois de partido o custoso
bolo do noivado: ainda com doze anos, Fatinha saiu de casa para ir morar com
Joãozinho, no distrito de Furquim, a 60 km da terra natal do jovem, bem jovem,
casal. Levando na mudança apenas um colchão, Fatinha e Joãozinho deram início à
promessa de “compartilhar o dia a dia” que está durando até hoje, 21 anos mais
tarde.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Antes de iniciar essa “loucura” de sair de casa, Fatinha,
junto aos seus quatro irmãos, trabalhou, desde os três anos, na lavoura de
arroz com os pais, todas as tardes, depois de frequentar as aulas na escola de
São Pedro dos Ferros, a 20 km de sua casa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Devido ao seu pavor em ter que ficar dentro da sala de
aula, sem poder sair ou falar sem permissão, num tempo e lugar onde os
professores usavam da força física para conseguir disciplina das crianças,
Fatinha abandonou os estudos ainda na terceira série primária, atual 4º ano do
Ensino Fundamental, aos nove anos. </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Para esconder dos pais esse abandono, a menina continuou
cumprindo a mesma rotina de todos os dias: acordava às quatro horas da manhã,
andava por mais de 40 minutos numa estrada de terra, de mochila nas costas, em
direção à escola. No entanto, escondia os materiais em uma bueira da estrada e
passava a manhã vendendo abóboras para, com o dinheiro das vendas, comprar um
vestido de chitão. Demorou quase um ano para que os pais descobrissem que
Fatinha não ia mais às aulas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Contrariando a tradição da época, os pais de Fatinha pouco
utilizaram de castigos físicos na educação dos filhos. Sempre que surgia alguma
“levadice”, tal qual essa de não ir à escola, “Sô” Manoel e Dona Rita faziam um
longo sermão, que, pela dureza e simplicidade das palavras, doíam mais que
qualquer surra ou puxão de orelha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Como em quase toda regra, há uma exceção, um dia Fatinha
apanhou muito, de vara de marmelo. Para conseguir tamanha façanha, a de irritar
a calma Dona Rita, Fatinha e seu irmão mais novo, Helinho, encontraram uma
garrafa de aguardente que o pai, “Sô” Manoel, havia enterrado no terreiro de
casa para que a bebida ficasse mais curtida, mais forte. Os irmãos, então com
dez e oito anos, respectivamente, de tanto “provar” aquele estranho achado,
ficaram embriagados. Ao encontrar os filhos rindo excessivamente pela casa com
a garrafa nas mãos, dançando sem música e falando coisas desconexas, Dona Rita
logo compreendeu o que havia acontecido. Para entender que “aquilo não era
coisa de criança”, os meninos apanharam. Devido ao efeito do álcool, Fatinha
não sentiu dor alguma, só entendeu o que tinha acontecido quando acordou no dia
seguinte e os irmãos contaram o tragicômico episódio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É com essa forma de educar, priorizando o diálogo em
relação aos tapas e beliscões, que Fatinha e Joãozinho educam seus três filhos:
Fernando, 17 anos; Amanda, 15 anos e João, o “Nenê”, 13 anos. Fernando nasceu
poucos meses depois que Fatinha saiu de casa para morar com Joãozinho. Aos
treze anos, ela “brincava de boneca” com um bebê de verdade. Sem ajuda dos
pais, que ainda não haviam aceitado o casamento, e sem entender nada de
criança, as dificuldades em criar o menino foram imensas. Para piorar a
situação, Fernando foi um bebê pouco saudável, sempre estava doente por um ou outro
motivo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em uma dessas doenças, foi
receitado a Fernando um remédio em pó, que deveria ser dissolvido em água nas
quantidades indicadas pelo médico. Fatinha, pela sua pouca idade e muita
ingenuidade, tentou fazer o bebê tomar o remédio a seco. O menino quase morreu
engasgado. Hoje, anos mais tarde, Fatinha relembra esse “sufoco” pelo qual
passaram - ele, literalmente - com humor. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Fatinha viveu em Furquim com Joãozinho e Fernando até o
nascimento da segunda filha, Amanda, quando foi morar em uma fazenda nas
redondezas de Belo Horizonte. Na fazenda, Fatinha cuidava dos filhos pequenos
e, para ajudar com os gastos, trabalhava como cozinheira na sede. Foi nessa
fazenda que, dois anos mais tarde, nasceu o “Nenê”, filho caçula do casal. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Uma vez por semana, Fatinha, acompanhada dos três filhos,
ia, numa carroça, até o centro da cidade com o objetivo de comprar e vender
coisas. Em quase uma hora de “viagem”, a família enfrentava os “empaques” da
mula que puxava a carroça toda vez que o movimento de carros se intensificava.
Fatinha não tinha vergonha nenhuma em descer da carroça e segurar pelas rédeas
o animal teimoso. Afinal, “quem fez o seu patuá, que o carregue!”, brinca. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Passados os quatro anos nos quais viveu em Belo
Horizonte, Fatinha voltou a Furquim, para a mesma casa da vida de recém-casada.
E é lá que ela vive atualmente, com os três filhos e o marido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Localizada na Fazenda São Geraldo (Furquim), a 110 km de
Mariana, interior de Minas Gerais, a pequena casa de Fatinha está sempre com
fumaça saindo da chaminé, o fogão à lenha só “descansa” à noite. Todos os dias,
às 5 horas da manhã, Fatinha já está com seu café coado, pronta para sair.
Levando consigo uma “marmita” para o almoço, ela trabalha cortando cana até às
18 horas, quando volta para casa e prepara o jantar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Aos 33 anos, o maior divertimento de Fatinha é assistir às
telenovelas durante a semana. O sossego de estar em casa, próxima aos filhos e
ao marido já é motivo de felicidade e faz com que ela não tenha nenhuma vontade
de morar na cidade. Num mundo em que “é difícil encontrar gente de bem”, morar
na “roça” pode ser um privilégio. Fatinha não tem vontade de conhecer nenhum
lugar, vê-los pela televisão já é suficiente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Fazendo jus ao ditado popular “faça o que eu digo, não
faça o que eu faço”, Fatinha faz questão de que seus três filhos frequentem a
escola regularmente. Ao contrário da mãe, hoje os meninos têm um carro que os
buscam para a aula e não precisam trabalhar para ajudar nas despesas de casa.
Após tantas dificuldades enfrentadas pela vida afora, Fatinha vive hoje uma
vida economicamente estável e, ao se lembrar do passado, conclui que as coisas
melhoraram muito.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Esse mesmo passado se apresenta para Fatinha como uma
grande sucessão de loucuras: sair de casa ainda criança, morar próximo a uma
cidade grande, deixar de estudar... <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Apesar de classificar seus atos como “loucuras”,
especificamente o casamento precoce, Fatinha não hesita em dizer, entre altas
risadas, que faria tudo outra vez da mesma forma, com exceção talvez do
episódio em que encontrou a garrafa de aguardente do pai. “Se saímos de casa
meninos e estamos juntos até hoje é porque, no mínimo, posso falar que deu
certo”, diz.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Certamente, o compositor brasileiro Chico Buarque não
conhecia João Bosco Soares, tampouco Maria de Fátima Gentil, quando escreveu
sua música titulada “Joãozinho e Maria”. No entanto, parece ser para eles que o
poeta dedicou os versos: “no tempo da maldade, acho que a gente nem era
nascido...” <span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-49202698308201295642014-01-06T13:44:00.001-02:002014-01-06T14:24:27.796-02:00Dona Dionísia: a menina que jogava bilboquê<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsdLPourTkI0dJoGK_JEBFM0JS3PjAJDUWov_xqX1TmndIxDr8K9ldZkcaApu4wzlkrZtBQ3qifrljia6Mpp3FLl3ULo_xzlNoQogE-zuuQIzSUp6vNjtBuZTC19FwUDVebkwP2bIqh-A/s1600/7890469700_08f65da720_o.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsdLPourTkI0dJoGK_JEBFM0JS3PjAJDUWov_xqX1TmndIxDr8K9ldZkcaApu4wzlkrZtBQ3qifrljia6Mpp3FLl3ULo_xzlNoQogE-zuuQIzSUp6vNjtBuZTC19FwUDVebkwP2bIqh-A/s1600/7890469700_08f65da720_o.jpg" height="400" width="265" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Jamylle Mol</td></tr>
</tbody></table>
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nasci em Piau, um pequeno povoado da cidade de Piranga, na
Zona da Mata mineira. Meu pai, José Cantaro da Rocha, e minha mãe, Maria Mônica
de Oliveira, cuidavam de mim e dos meus irmãos: Jandira, Efigênia e Geraldo. Comecei
a trabalhar muito cedo: olhava menino pros outros, apanhava café, capinava
arroz... Fazia um serviço bruto mesmo. Tinha muita gente em casa, então, todos
tinham que trabalhar. Passei a infância só trabalhando e trabalhando. Cheguei a
ir pra escola, mas não aprendi nada. Eu gostava da escola, mas não entendia as
coisas. Até hoje, eu fico assim “Por que é que eu não aprendi a ler, meu Deus
do céu?”. Nem meu nome eu sei escrever direito. Mas <i>tô</i><span style="font-size: small;"> vivendo assim mesmo. Tem muitos aí que sabem ler, mas não sabem
viver. Eu não sei ler, não, mas já vou levando bem a minha vida. <o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Minha mãe era muito boazinha, não brigava com a gente. Não
deixava os filhos intrometerem no assunto dos mais velhos, não podia passar na
frente da mãe nas conversas porque era muito feio. Só podia ficar escutando... A
gente era muito pobre, nem roupa direito eu tinha. Quando ganhava um vestidinho
novo, já ficava toda alegre e dava graças a Deus! Vivia todo mundo perto, em
Piranga mesmo, cada um <i>esparrodado</i> em
um canto. Não lembro muito de quando eu era criança porque já faz bastante
tempo. Sei que era uma luta, mas valeu a pena!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando eu era
pequenina, jogava bilboquê<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O tempo foi passando e
eu cresci, não sei pra quê<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Saudade do colégio, eu
fazia o que queria e nada me acontecia<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Era tudo diferente!<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje, não posso fazer
nada porque eu vivo no batente...<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">(Em meio à conversa, Dona Dionísia canta os versos)<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Meu pai morreu muito novo, antes mesmo de eu me casar. Não era
bravo, deixava a gente ir ao baile. Eu ia <i>pro</i>
baile de vez em quando, e, se me ofereciam alguma bebida, eu esperava a pessoa
olhar pro lado e jogava fora. Gostava um pouco de vinho só. Também gostava de carnaval
e de cantar. Sempre gostei muito de cantar. Colocava um saião e ia pra rua,
quando era dia de festa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Casei aos 19 anos, com o Laurídes, que também era de Piranga.
Não namorei muito, não, porque, como diz o ditado, <i>namorar não é pecado, se tiver com amor. Namora moça solteira e, as
casadas, conforme for</i>. Casei direto mesmo. Como meu pai já tinha morrido,
não precisei de autorização. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia, meu marido falou: “arrumei um serviço lá em Mariana,
cê vai comigo ou vai ficar aqui em Piranga?”. Não, meu <i>fio</i>, eu vou pra lá, uai. O que é que eu vou ficar fazendo aqui sem
você? Aí, juntei tudo que eu tinha, fui pra linha esperar o trem de ferro que
ligava Piranga à Mariana, despedi dos amigos e vim embora pra cá. Nessa época,
eu tinha uns vinte e poucos anos. Fui morar lá no Matadouro, que é muito longe
do centro da cidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Trabalhei em hotel e em muitos restaurantes: o de Sô Quim, o
do seu Zé de Souza, o do Jovelino... Cozinhava nesses lugares e lavava roupa
pros outros. Depois, comecei a tomar conta das pessoas de idade: cuidei de Dona
Violeta, ali na Rua Nova, durante muitos anos, até ela morrer. Olhei a Dona
Marta, Dona Inácia e Dona Ninita – que eram irmãs – Dona Ritinha do Santana,
Dona Odete... Foi muita gente mesmo que eu tomei conta, graças a Deus! Cuidei
de criança também, mas o povo antigo dava menos trabalho. Criança não para, os
velhos ficam quietos, é só dar banho, comida e remédio na hora certa e ter
paciência com eles. Os antigos não gostam muito de conversar, ficam mais
calados. Só a Dona Marta que gostava
muito de falar, ela me colocava pra cantar uma música esquisita, cheia de
palavra feia. Eu ficava na varanda e ela falava “Dionísia, vamos cantar aquela
música?”, eu não gostava, mas cantava pra dar gosto pra ela. A vergonha era tão
grande que eu ficava até meio escondida, mas ela batia tanta palma que eu
falava “Ô, Dona Marta, que música bonita! Que música bonita, Dona Marta” e ela
ficava toda alegre comigo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As pessoas gostavam muito de mim porque eu era honesta.
Ganhava uma roupa velha ou outro <i>trem</i>
qualquer, mas tirar por conta própria, nunca tirei nada. Eu vou pegar uma coisa
sua e não vou falar nada? Não vou, não. É errado, uai. O que é meu é meu.
Ensino isso <i>pros</i> meus netos, falo
como é que eles devem andar. “Não mexe na sacola dos outros na escola, viu?”,
eu sempre falo pra eles porque é melhor prevenir. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">Tive oito filhos. Dos oito, morreram a Maria, a Francisca, a
Lurdes e o Zé Geraldo. Morreram de bobeira, por causa da bebida. Mas, por
exemplo, se eu falo pra você “não passa aqui porque é meio perigoso”, o que é
que você tem que fazer? Dar a volta, não é? Mas eles não deram, aí, quando
foram se arrepender, já era tarde. Morreram de bobeira. Eu falava que bebida
não presta pra nada, só prejudica o organismo, beber pra que? Faz igual </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;">ieu</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"> que não vou na ilusão de qualquer
coisa. Mas não me ouviram.. Saíram de casa e morreram morando na rua.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando eu trabalhava, deixava os meninos na creche e buscava
de noite. Era difícil a luta, mas a gente tem que passar pela vida é alegre
porque tristeza acaba com a pessoa. Morava num barraco de pau a pique: já morei
no Matadouro, como eu disse, no Vamos-vamos, no Morro Santana e no Rosário. Quando
mudei pra essa casa onde eu <i>tô</i> agora,
chovia tudo aqui dentro, dava aquela enxurrada e molhava as coisas. Morei em
muitos lugares, mas o verdadeiro mesmo é esse de agora. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu ia trabalhando nas casas de família, ganhava roupa e
mantimentos. Às vezes, nem café os meninos tinham pra ir pra escola. Já sofri um pecado mesmo, mas nem gosto de
lembrar. Já passou mesmo, <i>né</i>? O
Laurides, meu primeiro marido, também ajudava em casa. Ele trabalhava
esvaziando caminhão de entrega no supermercado. De vez em quando, ele trazia um
pacote grande de comida misturada, que catava dos sacos que arrebentavam no
caminhão. Tem mulher que olharia aquilo tudo: feijão, macarrão, arroz, tudo
misturado, e falaria que não ia comer. Mas eu catava tudo – feijão <i>prum</i> lado, macarrão pro outro – lavava
tudo bem direitinho e colocava pra cozinhar. E ninguém morreu por isso, nem
nada. Quando ele chegava com o pacote, eu ficava com o coração humilhado, mas
fazia tudo e todo mundo comia bem nesse dia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O Laurides morreu de tristeza. Ele tinha um patrão que
judiava muito dos empregados. Um dia, o Laurides me perguntou: “será que almoço
primeiro e só depois lavo o açougue?”, falei pra ele almoçar primeiro. Ele
almoçou e o patrão queimou o pé dele com ferro quente, desses de marcar gado. Pelo
atraso, o patrão fez essa covardia. O povo chamou a polícia, acho que passou
até na televisão. Ele ficou em casa, com o pé machucado, deitado na cama: “esse
tanto de filho pra tratar aí e eu sem poder ajudar”... e foi entristecendo com
aquilo e não aguentou, morreu de tristeza. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Casei de novo, com o João, porque solidão não presta, não, e
eu gosto de andar a vida toda alegre e cantando. <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Amor é uma semente que
a gente planta pra colher<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No coração da gente,
com a idade, vai nascer<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quem planta bem, colhe
bem<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quem planta mal, colhe
mal<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Porque o amor é um
pecado original...<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">(Em meio à conversa, Dona Dionísia canta os versos)<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O João era vigia, fazia ronda noturna. Era muito bom pra mim,
o meu <i>véio</i>. Um dia, eu estava tomando
conta da Dona Violeta, quando voltei pra casa, não encontrei ele em lugar
nenhum. “Ai meu Deus do céu! Aconteceu alguma coisa com o João”. Depois de um
tempo, a minha vizinha apareceu pra falar que tinha acontecido um acidente com
ele. O João ia pro serviço todo limpinho, mas, quando eu cheguei ao hospital,
ele estava todo sujo de poeira da mina onde ele trabalhava fazendo a ronda. “Dois
ladrão <i>acabou</i> comigo de noite, me
empurraram pra barranceira... custei a conseguir subir, Dionísia”, ele falou,
todo sujo. Pegamos um carro que apareceu por lá e fomos até à delegacia dar
queixa. O João recebeu alta e veio pra casa, mas ficou meio abobado. Bater na
cabeça é triste, <i>né</i>? E ele não
aguentou e morreu. Tão bom que o João era... <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Meus dois maridos eram muito bons, mas sempre tem uma
tristeza pra atrapalhar. Na vida toda, sempre aparece uma coisa ruim, mas tá
bom assim mesmo. A vida é muito boa, depende da pessoa saber <i>levar ela</i>. O povo fala muito que o mundo
<i>tá</i> ruim. O mundo não <i>tá</i> ruim, não, as pessoas é que não sabem
andar por cima dele, mas o mundo? O mundo <i>tá</i>
é ótimo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando fiquei viúva, encontrei muitas tentações: vinha à
noite e passava ali perto da igreja do São Pedro, olhava pra baixo e tinha um
precipício me cercando e, pra não correr o risco de nada, eu <i>cascava</i> pro outro lado. Tinham uns
homens no caminho que eu fazia pra voltar pra casa, sempre tarde da noite, eu
passava e eles diziam “ô, mulher difícil!”, sou difícil mesmo, eu respondia e
continuava andando. Graças a Deus!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A vida é muito boa. Tem hora, que eu fico recordando o meu
passado: pra quem não tinha nada, vivia na casa dos outros, às vezes, até aguentando
desaforos, hoje, está tudo muito bom. Quem quiser, pode vir até a minha casa e
vai encontrar o que comer e o que beber também. A gente vive é pros outros, não
é? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando eu morava na casinha de pau a pique, aqui nesse bairro
mesmo, ganhei um pedaço de terra. Passaram alguns dias, uma dona veio até a minha
casa e me pediu um pedaço dessa terra que eu ganhei. Ela queria construir um
barraco. Eu dei com o maior prazer porque é dando que se recebe. Enquanto o pessoal
dela construía tudo, eu ajudava a ajeitar as coisas, a olhar os meninos e a
lavar roupas. Quando o barraco dela estava prontinho, me chamou e disse que ia
construir um muro com tijolos, pra eu ficar de um lado e ela, de outro. Disse,
na minha frente, que, assim, uma não veria cara da outra. Quando ela me disse
isso, eu senti uma dor esquisita no meu coração, mas pensei que Deus <i>num</i> veio no mundo só pra um. Fiquei sem
graça, quietinha no meu barraco sem sair pra nada. Acordei sem graça no dia
seguinte e fiquei olhando a poeira que subia com o vento, pedi pra Deus livrar
todas as ilusões da minha vida, o meu coração estava triste mesmo. Nisso,
brilhou uma luz no meu caminho, passou um raio parecido com um relâmpago e eu
pensei “que luz é essa?”, não estava chovendo, nem nada, não passava carro, não
tinha ninguém na rua. Ouvi uma voz no meu ouvido, dizendo que Deus estava
comigo. Fiquei tão alegre que cantei a tarde toda. A minha casa estava caindo,
eu estava viúva. Mas, mesmo assim, fiquei feliz porque Deus apareceu pra mim,
porque Ele estava comigo. Não demorou muito e eu consegui fazer uma casa nova,
de tijolos, que é essa em que eu moro hoje. Por isso, falar que a vida tá ruim
é um pecado. Tudo tem o tempo certo: tem o tempo de colher pedra, tem o tempo
de espalhar pedra, tem o tempo de rir e o tempo de chorar. Tem tempo pra tudo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu sou uma pessoa muito amorosa. Se todas as pessoas fossem
assim, não tinha nada de ruim nesse mundo. Não gosto de ver ninguém reclamar
nada, ninguém pode sofrer perto de mim. Se eu pudesse, limparia tudo de errado
que existe. Limparia tudo na hora mesmo. Às vezes, aparece alguém aqui em casa
com alguma dor, eu rezo pela pessoa e ela melhora. Outro dia, apareceu uma
mulher aqui que sofria de muita dor de cabeça, ela queria que eu ensinasse um
chá. Ensinei que folha ela pegaria e fiquei rezando pra ela, sem ela saber. Quando
chegou em casa, nem precisou do chá porque ela já estava curada! Mas isso tudo
é porque tem que confiar na vida e em Deus. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não sei quantos anos eu tenho, se é 74, ou 87. Minha filha,
Elvira, olhou o documento e disse que eu tenho 88 anos. Estou pequenina ainda,
não estou? Vivo trabalhando até hoje e, todos os dias, agradeço por tudo que eu
tenho, porque, antes, eu não tinha nada. Sou viúva duas vezes, sim. Mas outro
dia, apareceu um <i>véio</i> aí querendo
casar comigo. Eu não sei se quero, não sei se não quero, estou assim: meio cá,
meio lá. Mas a solidão não é coisa boa. Você ter alguém pra acompanhar na
igreja e cuidar de você é ótimo. E, pra isso, eu sou muito boa: não deixo o <i>véio</i> passar fome, nem sede, não deixo
andar sujo. Comigo, é tudo muito certo. Mas tem que me acompanhar na igreja,
senão, como vai ser? Assim, não pode. Dois cabritos não bebem água na mesma
cumbuca, não, porque o chifre é grande! Então, tem que ir comigo à igreja. Esse
<i>véio</i> que apareceu e quer casar comigo
trabalha de ronda, como o João, meu último marido que morreu. Ronda é muito
perigoso. Só disso que não gostei. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje, sou aposentada. Meu patrão, o filho da Dona Violeta, de
quem eu tomava conta, me ajudou a pagar o INPS. Agradeço a alma dele todo dia. “Ô,
Dona Dionísia, vou ajudar a senhora a pagar o INPS, viu? Porque, assim, quando
a senhora sair daqui, vai ter um ganhozinho”. Obrigada, Sô Hélio, Deus abençoe
o senhor e a sua família! O meu velho que morreu também deixou um <i>cadim</i> pra mim... e vivo assim: em pé,
sem cair, deitada, sem dormir!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda vou conseguir mais vitórias porque a vida é muito boa.
O mundo tá muito bom, não quero morrer agora, não. Quero muita vida. Vida com
saúde! Quero fazer uma área aqui em casa, mas nunca que ela sai. A gente não
ter uma pessoa pra ajudar é muito ruim. Tenho meus filhos, mas eles pouco ligam
pra isso. Meu filho, Marco Aurélio, trabalha em um negócio. O Zé, meu outro
menino, trabalha catando papelão lá na rua. Ele mexe muito com esses ‘troços’
de poesia também, já escreveu até no jornal. A Elvira mora aqui em casa, na
parte de baixo. Não sei quantos netos eu tenho, mas são muitos! Não lembro o
nome deles, mas fico de olho em todos porque não gosto de ver ninguém
maltratado, ninguém sofrendo. Tenho vontade de voltar pra roça, mas só se eu
arrumar um <i>véio</i> pra ir comigo. Eu
iria feliz, plantar e criar galinha. Roça é uma beleza e eu gosto muito de ‘criação’.
Quem sabe ainda não vou, né? Às vezes... quem é que sabe? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Menina dos dentes claro<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Parece canjica grossa<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Me dá seu braço, morena<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Me leva pra sua roça?<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">(Em meio à conversa, Dona Dionísia canta os versos)<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Acordo, todos os dias, às 8h, porque já levantei muito cedo
nessa vida. Hoje, não preciso mais. De vez em quando, vou ao centro da cidade,
a pé mesmo. Pra voltar, venho de ônibus porque o morro é comprido, é muito
longe. Aos sábados, às vezes, vou à Igreja. A igreja tira as tristezas do
coração da gente, parece que o que eles leem lá foi escrito pra mim e, por
isso, eu volto pra casa satisfeita. Não saio muito daqui, nunca viajei. Já fui
visitar meus irmãos que moram nos asilos em Lafayete e em Ouro Branco. Eles
nunca vêm me ver, só eu vou lá. E, olha bem: eles têm carro, podiam vir. Mas
nunca vêm. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Meu divertimento é cantar. Eu não sei ler, como eu já contei,
mas as palavras vêm assim na minha cabeça e eu canto. A cada dia, canto uma
coisa nova. O tempo que <i>tô</i> cantando
ou na igreja é o tempo feliz. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por causa dessas coisas que eu canto, essas histórias e
poesias, veio um rapaz aqui me gravar. Cantei um pouquinho e, quando fui ver,
eu estava aparecendo na televisão. Pensa bem: <i>ieu</i> na televisão. “Ai, Dionísia, <i>cê</i> não tá fácil, não!”. Acho que passou e todo mundo viu, não sei. Você
não chegou a me ver, não? Apareci lavando vasilhas e cantando, bem ali dentro da
televisão. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda lavo, passo e cozinho todos os dias. Não consigo ficar
parada. Os antigos já diziam: “Deus no céu, trabalho na terra e dinheiro no
bolso”. Tenho saudade dos meus irmãos e do tempo em que eu trabalhava com a
enxada, apanhando café ou cortando cana. Era muita luta, mas eu cantava o tempo
todo. Medo, não tenho nenhum. Só dessas pessoas que andam por aí fazendo
maldade. Mas o mundo é muito bom, não tenho do que reclamar. Já estou feliz
demais, só de você estar aqui. Tenho muito medo de avião também, não entro em
um desses por nada porque dá medo demais, nem pra conhecer a praia, eu entro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Se eu tinha vontade de ver o mar? Uai, eu ainda tenho! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-17285868969833770542013-11-08T12:48:00.002-02:002013-12-29T13:16:58.302-02:00Hay que viajar!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Não tenho filhos. Se os tivesse, escreveria uma carta mais ou menos
como a de Aristóteles para Nicômaco, mas de um jeitinho menos frio-carinhoso-filosófico.
Ou, para ser mais moderna, poderia fazer como Ted, de <i>How I Met</i>, e gravar um seriado: “a história de hoje, Kids...”. Tudo
isso para contar sobre o tempo que passei na Argentina e as conclusões que esse
intercâmbio-que-não-foi-intercâmbio trouxe até mim. Seria mais ou menos assim:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">'Se algum dia aparecer uma oportunidade, escolha um país e coloque na
cabeça que você vai morar nele por algum tempo. Passe meses a fio pensando
nesse tal país, mas não pesquise muito, que é pra não tirar a graça quando você
estiver lá, com os pezinhos no chão. Despeça dos seus amigos, dos seus pais, da
sua cidade, da sua rotina. Vão cair umas lagriminhas (ou não), mas elas passam
logo, logo. Acredite! Chegue ao aeroporto sem saber falar uma frase completa do
idioma nativo desse país e passe muitos apertos e vergonha por isso. No fim das
contas, depois do desespero inicial de não entender nada, você terá boas
histórias e um desafio enorme pela frente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">More com quinze pessoas totalmente desconhecidas. Aprenda a dividir
uma casa, a esperar a sua hora de usar a cozinha, a não dormir quando alguém
resolveu juntar os amigos da faculdade e fazer um auê. Aprenda que todo mundo
tem seu espaço e que é preciso respeitar o dos outros. Perceba que viver com
pessoas da mesma idade pode ser uma das melhores coisas da sua vida: há sempre
alguém disponível pruma cerveja, um jogo de adivinhações e um papo político.
Você será uma pessoa melhor depois disso e terá amigos e estadia em um montão
de países. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Cozinhe sua própria comida. Não uma ou duas vezes por semana, mas
todos os dias. Depois de um tempo, você pegará gosto pela coisa. Literalmente. Comece
a se preocupar com a sua própria saúde, afinal, quando estamos longe, não tem ninguém
pra vigiar e cuidar da gente. Por isso, troque hambúrgueres por frutas,
macarrão por verduras e, cervejas, bem, as cervejas continuam sempre lá. Firmes,
fortes e geladinhas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Conheça uma universidade totalmente diferente da sua, faça um estágio,
comece um curso novo, trabalhe de graça, só por trabalhar. Conheça uma cultura nova.
Perceba que cada lugar tem seus encantos, seus problemas e peculiaridades.
Entenda que, por mais que você se encante por tudo que acabou de conhecer,
nunca achará um lugar mais perfeito que o seu próprio país. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Faça amigos. Prove um drink novo e fique mais alegrinho que o normal.
Fique feliz só de ver seus pais pela webcam. Namore um estrangeiro. Amadureça
estilo JK: 5 anos em 7 meses. Aprenda que é preciso valorizar o desejo dos
outros mas, entenda que, em alguns momentos, o mais difícil e importante é
seguir a sua própria vontade. Por isso, aprenda a dizer não. E aprenda a dizer
sim também. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se algum dia aparecer uma oportunidade, more em outro país. E outro. E
outro. E outro mais. O mundo fica tão grande quando saímos de casa, que nos tornamos menores, mais humildes e conscientes de que há mais cenários depois do nosso próprio quintal. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se algum dia aparecer uma oportunidade, viaje. Se não aparecer,
invente uma. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas não se esqueça: hay que viajar!'</span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-58212054935800508442013-04-19T19:03:00.004-03:002013-04-20T09:34:54.282-03:00O dia em que minha mãe descobriu o computador<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggteQuW7-tK6NysfhUxy8MrUSwqlISr4g85a89fT7lTMJOa_hvDO28AW9X_vvEZqHPQ1XCzpYc4KoGVW1uZF_ygk6eIPySrWabMcZSLjpxI56ttdCGJgaJq3PLy4vJIKdVv72itsneKsQ/s1600/Untitled-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggteQuW7-tK6NysfhUxy8MrUSwqlISr4g85a89fT7lTMJOa_hvDO28AW9X_vvEZqHPQ1XCzpYc4KoGVW1uZF_ygk6eIPySrWabMcZSLjpxI56ttdCGJgaJq3PLy4vJIKdVv72itsneKsQ/s320/Untitled-1.jpg" width="320" /></a><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 115%;">O
computador surgiu no início do século XX, mas, para a minha mãe, ele só nasceu –
com suas janelas, fios e mouses – há uma semana. E-mail, facebook, Word, Skype e
photoshop: essas palavras nem sequer faziam parte do vocabulário de Dona
Marilene, que, no auge dos seus 50 e tantos, via o computador da minha casa
como um monstro impossível de domar.</span></span></span><br />
<br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eis que um dia a saudade apertou
e espantou o seu medo da tecnologia – ou da modernidade, como dizem os bons
mineiros. Tecla por tecla, minha mãe aprendeu a ligar a CPU, conectar a
internet e navegar por aí. Ela, que tem quarenta e alguns anos de experiência
como mestre dos mais humildes, arranjou um professor, arregaçou as mangas e,
todos os dias, faz o seu dever de casa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A uma semana atrás, o facebook
nem imaginava que, entre as montanhas de Minas, numa casa com varanda e
passarinhos na janela, havia uma Marilene Mol. Hoje, a carinha dela já está
estampada entre os rostos virtuais, colorindo a internet com sua bondade e
divertindo os meus amigos com as mensagens na minha timeline. “Já, hoje eu
descobri o Alt Gr e o Shift”, conta, pelo skype, toda feliz. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Há dias em que o otimismo escapa
dos nossos olhos – em manhãs de pães com manteiga e muito, muito sangue nos
jornais, como cantou Vinicius – e a vontade de mudar o mundo parece uma grande
bobagem, uma “síndrome de Dom Quixote”, como costumo ouvir por aí... Que ideia absurdamente
romântica e utópica achar que o amor pode transformar as coisas, não é? </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pois bem. Nesses dias, lembro da
carinha da minha mãe me olhando pela webcam (que ela mesma escolheu na loja),
encantada com o universo novo que se abriu pra ela, e volto a acreditar nos sentimentos
que transformam. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Bastou um primeiro passo e, agora, Dona Marilene caminha,
sozinha, por um mundo cheio de novidades: surpresas dessas que vêm fora de
hora... Conhecer amigos, digitar provas da escola, curtir a página do Robertão
no facebook, ver as fotografias dos moleques da minha irmã no e-mail: nada disso
moveu a minha mãe. Ela foi movida única e exclusivamente pelo amor. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Quem tem mãe, não tem medo”, bem
disse o Henfil. Acrescento: Quem tem mãe, como a minha, não tem medo de mudar o
mundo - pelo amor. Tudo se tornou mais fácil, mais crível e melhor desde o dia
em que minha mãe descobriu o computador. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-75695777020620908532013-03-25T12:41:00.000-03:002013-03-25T12:41:01.989-03:00Tradução<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMTdiDJOG27tFe9QoPM2EiQo1y0XzzBZ9d7rnZ_8jlVKXqABxAr_F1BV9JpP9pixqE2xkKkkBTvVcRnfBw5bt63Mi2_IryaWyoGhSkftrliXfZI5mOQ1CTA5695c-82bzm3kC7sNKE8WY/s1600/IMG_3427.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMTdiDJOG27tFe9QoPM2EiQo1y0XzzBZ9d7rnZ_8jlVKXqABxAr_F1BV9JpP9pixqE2xkKkkBTvVcRnfBw5bt63Mi2_IryaWyoGhSkftrliXfZI5mOQ1CTA5695c-82bzm3kC7sNKE8WY/s640/IMG_3427.JPG" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Duas
portas e uma cancela meio caída, que soa um ranger incômodo quando cumpre seu
abre e fecha teimoso. A cruz colada à parede denuncia a esperança escondida na
casinha ao lado da igreja. Interior do interior de Minas. Gente escondida
debaixo do telhado de amianto, em cima do chão batido.</span><span style="font-family: Impact, sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Para
conhecer os moradores, é preciso bater uma, duas, três vezes na portinha de
madeira. Moram longe, onde tudo parece ser difícil: a escola não funciona em
dia de chuva. “Quando chove, menina, na estrada, só passa avião!”. A saúde não
anda lá muito bem: vez ou outra, aparece um doutor, mas, remédio, não tem!
Telefone não “pega”, o preço na venda está caríssimo e a igreja de Santo
Antônio, o das causas urgentes, há muito, precisa de reforma.</span><span style="font-family: Impact, sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">No
meio da praça, centro da cidadezinha que não está no mapa, há um banco, um
cachorro, um cavalo e um senhor que observa. Observa os meninos que brincam
descalços, inocentes no desconhecer do mundo que os espera. Observa o mato que
cresce no cemitério por falta de um coveiro. “É a parte que me cabe deste
latifúndio”, diria, se conhecesse João Cabral. Vê uma moto que passa a toda
velocidade – único barulho nessa manhã de sábado quente, com suor que escorre
no rosto. Tudo está calmo, com um sossego que chega a doer.</span><span style="font-family: Impact, sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Ninguém
vai até àquela casinha. Ninguém nunca parou para ouvir as histórias de quem
cuida daquele chão como se fosse um filho. Às vezes, mais que tudo – o médico
que não chega, a escola que não abre porque relampejou, a estrada que só passa
avião –, as pessoas só precisam de alguém que as escute.</span><span style="font-family: Impact, sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Podem
dizer que memórias não mudam o mundo, que contar histórias nunca foi arma
contra coisa nenhuma. Mas, naquele sábado, entendi – ainda mais – a beleza que
há no querer escrever.</span><span style="font-family: Impact, sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FCFCFC; line-height: 12.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Tampei
a caneta e, sem querer, balbuciei Caetano: “meu trabalho é te traduzir...”</span><span style="background-color: transparent;"> </span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-89786057898267683312013-03-08T12:40:00.000-03:002013-03-08T19:26:52.446-03:00Um Marco. <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um marco na história desse Brasil
de meu (ou seria do seu?) Deus. Aliás, não um marco, um Marco. O Marco. Feliciano.
A Comissão de Direitos Humanos está em festa – com traje de gala, segurança na
porta e convite para entrar. Ora, afinal, qual brasileiro não está feliz com o
novo presidente? Não consigo pensar em um nome mais apropriado para ocupar esse
cargo tão, tão, tão inútil. O Brasil não precisa de uma comissão para zelar
pelos direitos humanos, oras! Basta andar pelas ruas, ler os jornais ou
assistir à Patrícia Poeta no horário nobre, que percebemos o quanto é dispensável
uma comissão desse tipo. Afinal, não há minorias nesse país: somos uma grande
massa verde e amarela, completamente idêntica e uniforme.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Não há quem pense diferente. Não há quem cultue
seus próprios deuses. Não há mulheres
nesse oito de março que precisem recorrer a uma Lei das Marias muitas e todas.
Não há nenhum tipo de preconceito contra homossexuais: se eles estão no seu
próprio canto, que mal há? Desde que não queiram cometer o a-b-s-u-r-d-o de se
casar. Que desnecessário celebrar o amor, não é? </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E as raças etnias cores e formas
de cabelos? São todas aceitas, respeitadas e têm a mesmíssima oportunidade de
ser aquilo que sonham (as cotas são outra medida absolutamente desnecessária,
diga-se de passagem). Não há índios expulsos de suas casas para dar lugar à
beleza e frieza de um concreto feito para inglês ver em dia de futebol. Não há
deficientes que encontram obstáculos quando querem atravessar a rua e comprar
um pão. Por falar em pão, todos os brasileiros tem pão, leite, carne, ovos,
salada e Mac lanche feliz na mesa. Olha nosso IDH, que coisa mais linda?! Não
há quem tenha fome e precise contar os dias no calendário para receber uns
reais na hora de tirar o cartão da bolsa família. Família. O Brasil adora
marchar pela família. Somos um país que deveria protagonizar uma propaganda de
margarina. Êta, orgulho!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Olhando essa perfeição toda (é ‘direitos
e humanos’ que não acabam mais!) fica difícil não se emocionar com o Feliciano
(tem alegria até no nome, vejam só!) presidindo nossa Comissão. Quem sabe assim
não acaba o teatro barato e o Brasil admite para todo o mundo que, por aqui,
não precisamos de ninguém zelando pelos Direitos Humanos? Chega de modéstia,
gente! Dizem que somos craques em jogar e organizar copas do mundo. MENTIRA!
Somos tão craques em garantir os direitos da nossa gente que o plano é acabar
com a comissão! </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Parem os protestos, tirem as
faixas das ruas, não assinem petições. Deixem o país seguir o seu plano, numa
reta, com viseiras. Pra baixo. Pra trás. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">2013: Feliz-esse-ano. (E ainda é
março!) </span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-3980507630112368532013-02-24T11:27:00.000-03:002013-02-24T11:39:24.353-03:00A falta que ele faz¹ <br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">¹ <i>Artigo publicado no caderno "Pensar", do jornal Estado de Minas, em 2 de fevereiro de 2013. </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em tempos de Comissão da Verdade – quando o Estado brasileiro toma para si a tarefa de clarear os cantos escuros da ditadura militar –, é difícil não recordar o traço rebelado e atrevido de Henfil. O lápis e o nanquim que palpitavam em tudo: nos rumos da política e da economia, nos cenários de desigualdade, no comportamento de homens e mulheres a quem acusava dessa ou daquela atitude. Ou da falta dela. Pois em 4 de janeiro o calendário marcou 25 anos sem ele. Para as gerações que o cartunista não cutucou, não provocou ou não tirou do sério, resta uma espécie de vácuo: Henfil passou feito um cometa – quem não viu perdeu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgWzm6zOcontxj-Z34UVf8NiVyCM4i6vktFbAxtf6ZFH5wkrn0HwXLwoLFt91Hc3_7nqEwtVv7GQKoklOjf_lzYGu1jrYb8JdxUnEhJItSo2HCEC1ziNRuENTu9WDqkTb4NGmvvz5WDrw/s1600/46072_315654695202337_1635346667_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgWzm6zOcontxj-Z34UVf8NiVyCM4i6vktFbAxtf6ZFH5wkrn0HwXLwoLFt91Hc3_7nqEwtVv7GQKoklOjf_lzYGu1jrYb8JdxUnEhJItSo2HCEC1ziNRuENTu9WDqkTb4NGmvvz5WDrw/s320/46072_315654695202337_1635346667_n.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Henrique de Souza Filho, Henfil. </td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mineiríssimo, nasceu Henrique de Souza Filho, na cidade de Ribeirão das Neves, no mês de fevereiro. Se estivesse vivo, faria, na terça-feira, 69 anos (que certamente celebraria com uma piada obscena). Aos 20 anos, já era cartunista na Revista Alterosa. Dali saltaria para outros segmentos da imprensa, como o Jornal do Brasil, o Jornal dos Sports, Jornal da Tarde, Correio da Manhã, Intervalo e as revistas Isto É, Realidade, Visão, Placar e O Cruzeiro. Também brindou, com sua irreverência, um dos mais importantes jornais da imprensa alternativa, O Pasquim. Sem falar do cinema (com o filme Tanga, deu no New York Times) e da televisão (com o programa TV Mulher, da Rede Globo). Hemofílico, morreu em 1988, vitimado pela Aids (contraída por meio de uma transfusão de sangue), depois de brigar feroz e obcecadamente pelo fim do </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">regime militar, da tortura, dos exílios, pela democracia, pelo voto direto, pelo fim da fome e da miséria, pela educação, pelo direito à vida – mas não a qualquer vida. Só valia a vida digna. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cartunista, quadrinista, escritor e jornalista, Henfil era dessas figuras que militam incansavelmente, cansando aqueles que se recusavam a pensar em liberdade. Atribuía a seu próprio desenho (e também à própria escrita) a marca de um jornalismo socialmente engajado, que se ocupava da crítica social, política e cultural. Não por mero acaso, chegou a integrar o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, como suplente, e a Associação Brasileira de Imprensa, como vogal. Nos anos 70, participou ativamente do movimento grevista dos jornalistas e, segundo o ex-presidente do sindicato da categoria em São Paulo Audálio Dantas, queria “comer o fígado” dos donos de jornais. Mais tarde, reuniria desenhistas como Laerte, Nilson, Chico Caruso, Paulo Caruso e Angeli para integrar a Oboré, a pequena empresa de comunicação criada para divulgar os movimentos de resistência ao governo e as injustiças praticadas pelo regime contra as bases operárias do ABC paulista. A partir dos quadrinhos – e sem receber por isso – o grupo de cartunistas dedicou-se à conscientização política dos operários. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Adepto da palavra e do desenho capazes de traduzir, Henfil se empenhava para ser compreendido pelas classes populares, e não apenas pelos intelectuais. Queria provocar reflexão, indignação e, a partir daí, ação. “O humor pelo humor é sofisticação, é frescura”, bradava aos amigos, explicando que, para ser levado a sério, o humorismo deveria ser “jornalístico, engajado, quente”. E sofrido – faltou dizer. Henfil fazia rir, mas também fazia doer. Foi assim, por exemplo, quando a Graúna, personagem mais famosa da Turma da Caatinga, revelou os três mitos alimentados pelos brasileiros nas regiões castigadas pela seca: Papai Noel, cegonha e leite. Ou quando ela se gaba a outros dois personagens (o cangaceiro Zeferino e o Bode Orelana) de pertencer a um lugar como a caatinga, “a maior exportadora de crianças para o céu”. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3QEfF1ckFUaGaiTj2CXjThimRxbPV6HjG6VhVLIPlrP7198bRVNW9nUsSXBsmJsF2c7mHvNorS0GEqR7RaFzwGvR9ny8lWZxm-yEwXo1K64Il0Zd0u_oULeHt_T7tVprUkcI895tSYqA/s1600/HenfilEsperanca.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3QEfF1ckFUaGaiTj2CXjThimRxbPV6HjG6VhVLIPlrP7198bRVNW9nUsSXBsmJsF2c7mHvNorS0GEqR7RaFzwGvR9ny8lWZxm-yEwXo1K64Il0Zd0u_oULeHt_T7tVprUkcI895tSYqA/s320/HenfilEsperanca.jpg" width="169" /></a></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As histórias da caatinga tomavam o Nordeste como metáfora dos mais pobres. Nos desenhos, um outro social ganhava rosto através dos personagens e mostrava aos brasileiros a cara do analfabetismo, da mortalidade infantil, da seca e da fome. Era assim que os desenhos burlavam a censura à imprensa imposta pelo regime, denunciando problemas que acometiam grande parte dos brasileiros. Marcados por uma ironia aguçada, os traços questionavam o poder público e a reação – ou não reação – das pessoas. Cada personagem era uma frente de batalha: os fradinhos Baixim e Cumprido, inspirados nos frades dominicanos de Belo Horizonte, questionavam, num humor ácido e direto, o comportamento de uma sociedade apática, por vezes cúmplice. Estavam lá, nos diálogos entre os frades, as críticas mais ferrenhas aos preconceitos raciais e de gênero, ao poder público e seu descaso para com as classes mais pobres e, sobretudo, às contradições da Igreja Católica como instituição de fé. Sempre rebelde O traço e a palavra faziam as vezes de espada num cenário que não oferecia tréguas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A campanha pela anistia aos exilados políticos é outro bom exemplo. Tema recorrente nos quadrinhos e textos de Henfil, o movimento, iniciado em São Paulo, tentava fazer com que o governo militar cessasse as perseguições aos condenados por crimes políticos, acusados de manifestações e ações contra a ditadura. Nesse caso específico, a luta de Henfil sustentava-se no sentimento de solidariedade aos brasileiros perseguidos, mas sobretudo na situação do próprio irmão – o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, também exilado. A luta de Henfil dava, assim, contornos singulares aos sentimentos de muitas famílias separadas de entes queridos, forçados ao exílio. Famílias que, ao fim e ao cabo, só faziam representar o Brasil que sonhava com a “volta do irmão do Henfil”, como rezavam, na voz de Elis, os versos da canção O bêbado e o equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc. Para o cartunista Nilson, a campanha pela anistia não teria a mesma força sem as Cartas da Mãe – aquelas que Henfil escrevia à mãe, dona Maria, e que, naquele período, eram publicadas semanalmente pela revista Isto É. Argumenta que elas davam um rosto a cada exilado. “Os 10 mil exilados, que ninguém sabia que existiam, fora os mais conscientizados, de repente tinham uma cara: era o Betinho, o filho da dona Maria”, avalia o desenhista em depoimento a Dênis de Moraes, autor da biografia do cartunista, O rebelde do traço, lançado pela editora José Olympio em 1996.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Naqueles anos, Henfil dedicou-se inteiro à campanha pela anistia. Segundo Dênis de Moraes, ele produziu desenhos para comitês de anistia, compareceu a uma série de atos públicos, fez questão de assinar manifestos pela “anistia ampla, geral e irrestrita”. Esse empenho, tão direcionado aos direitos humanos, chamou a atenção do núcleo mineiro do Comitê Brasileiro pela Anistia, que chegou a conceder ao cartunista, em abril de 1979, a Medalha Vladimir Herzog. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sim, é bastante provável que as histórias contadas por Henfil – pelo traço ou pelo texto – sejam calcadas em utopias, todas elas inspiradas em desejos e sonhos de cidadãos de outro tempo e lugar. Mas talvez por isso também estejam tão presentes nas ideias que deram corpo à Comissão da Verdade. Porque uma boa história não se limita à arte da narrativa. A boa história permite mudanças, possibilita novos desfechos, inaugura novos rumos. Até que se anuncie um novo tempo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Por Hila Rodrigues e Jamylle Mol</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-18403116306660669422013-02-20T19:49:00.000-03:002013-02-24T11:37:59.115-03:00Travessia¹<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>¹ Texto publicado no jornal Lampião (curso de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto), em fevereiro de 2013. </i></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">De um lado, na casa da esquina,
três portas e uma janela se equilibram na parede em ruínas. Do outro, o trilho
da Maria Fumaça dá a certeza de que estamos em Minas Gerais. O chão de madeira esconde
a água turva que o rio leva em seu constante passeio pela cidade. Enquanto
isso, de cima, uma cruz de pedra cercada de flores abençoa as tábuas largas, com
uma fé colorida que parece contradizer a frieza do seu concreto. É nesse
cenário que a primeira ponte de Minas Gerais repousa, no auge dos seus
trezentos anos de história. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Alphonsus de Guimaraens ou Manoel
Ramos, ponte de tábua ou de madeira. A diversidade de nomes só não é maior que
o número de passos que já caminharam por lá: pés firmes dos bandeirantes com
seus ouros falsos e sorrisos contidos, andar tranquilo das freiras em dia de
missa, a criança que largou a mão da mãe para seguir a retreta da banda e o
menino que equilibra os pneus da bicicleta entre um suspiro e outro. Todos
eles, cada qual em um momento, atravessaram a ponte. E atravessar é fazer
história, é começar em um canto e desafinar em outro. Para muitos, estar sobre essas
madeiras combinadas no interior da cidade é a maior aventura que o cotidiano
permite. Porque atravessar a ponte é, de fato, fazer história. Ninguém está lá
apenas por estar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Talvez o que mais se pareça com a
ponte escondida no cantinho da cidade seja um jornal. Não na estrutura, para
alívio dos céticos. Um é madeira, prego, ferro e concreto, combinados a fim de
seguir a planta elaborada por um engenheiro ousado, a mando de um prefeito
sedento por placas de inauguração. O outro é papel, palavra, tinta, imagens e
um punhado de ideologia, combinados para seguir a pauta elaborada por um
repórter ousado, com uma mente sedenta pela vontade de mudar o mundo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A ponte escondida no cantinho da
cidade só tem sentido se alguém passar por lá. Se não fosse por ela, o
maquinista da Maria Fumaça jamais conheceria as paredes que os anos destruíram.
Da mesma forma, o cachorro encostado na porta da casa invadida pelo tempo nunca
saberia que o trem carrega pessoas de um lugar para outro. Um jornal escondido
num cantinho da cidade só tem sentido se alguém abrir suas páginas e se render
ao charme das manchetes. Se não fosse por ele, as pessoas jamais conheceriam os
personagens que constroem a história. Da mesma forma, os personagens sequer
imaginariam que há histórias para serem criadas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quem atravessa a ponte vê além do
que está em uma das margens do rio. Quem lê um jornal enxerga mais longe do que
o seu próprio quintal. A ponte está na rua. O jornal, para ter sentido, também
deve estar. A ponte serve ao povo e, por isso, não faz distinção entre os
passos descalços do morador de rua e os sapatos engraxados de quem não anda de
ônibus. O jornal? Ora, o jornal também está a serviço de todos os passos,
embora, às vezes, se esqueça disso e meta os pés pelas mãos. A cada dia, a
ponte se renova. Ainda que sejam as mesmas madeiras e os mesmos pregos, o rio
que corre lá embaixo já é outro e as pessoas que caminham são diversas. Em toda
manhã, o jornal se reinventa. Embora sejam o mesmo papel e as mesmas letras, as
vidas que preenchem os textos são outras e o mundo está diferente do dia
anterior. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ponte e jornal: embora estáticos,
são passagem. Instrumentos que unem, eles levam, juntam, revelam. A ponte
transforma o cenário de quem anda. O jornal faz com que as pessoas caminhem
para alterar seus próprios cenários. Ambos são sempre um meio, não um fim.</span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-34957293348137637452013-02-19T01:02:00.000-03:002013-02-19T01:04:46.484-03:00Primeira pessoa<span style="font-family: Verdana, sans-serif; text-align: justify;">Não gosto de escrever em primeira
pessoa. Talvez porque, sem saber, só penso em coletivo. Mas pode ser também o
velho medo de dar a cara a tapa que às vezes resolve fazer uma revisita. A
exceção de agora, no entanto, é necessária, já que o incômodo é singular demais
para me esconder numa terceira pessoa comodista.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Falta pouco tempo para terminar a
universidade. E, às vezes, me assusto com o que vejo por aí. Não sou fã de
intelectualismos, desses em preto e branco que não sujam o pé, mas não consigo
entender as pessoas que formam em um curso de humanas (sociais aplicadas, que
seja!) sem ler nenhum livro inteiro sequer. É, no mínimo, apavorante pensar
numa imprensa que desconhece seus antepassados, que não imagina o quanto o
jornalismo já alterou realidades por aí... Não dá pra fugir: a prática é boa
(diria: assustadoramente deliciosa), mas debruçar sobre a teoria e sobre os
livros é algo que não dá pra deixar só por conta dos xerox que nos são indicados
ao longo dos semestres. É difícil imaginar a perda de quem sai da universidade,
em um curso de jornalismo, sem saber quem foi o Wainer, ou o Chatô, por
exemplo. Não saber quem foi o Henfil então... uau! Desse, não preciso nem
dizer. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia, no começo de tudo (faz
tempo, ai!), disseram que jornalistas devem ser chatos. Bom. Bem bom. Vamos
ficar inconsolavelmente indignados com os problemas que cercam a cidade? Vamos!
Que tal não deixar as grandes empresas mandarem e desmandarem no que é do povo?
Ótimo. E a política, heim? Nada como ser chato ao entrevistar um desses nomes
que falam bem, pro mal. O perigo é achar que esse “ser chato” é outra coisa que
vai além de ser repórter (desses de verdade, sabem como?). Ser chato não
significa negar tudo e todos com a veemência característica de quem ignora! Há,
sim, outros chatos mais capazes do que o nosso umbigo enxerga, por que não? Há,
sim, jornalistas (e muitos!) fazendo um belíssimo trabalho. Não, ninguém é
melhor que o colega só porque acha que o é. Nem todo gênio é chato. Aliás, desconfio
que a maioria deles passa longe disso. Quer coisa mais genial que a humildade?
Desconheço. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Legal demais também é esse desejo
de salvar o povo, falar do povo, escrever pro povo. Sensacional. É isso aí!
Afinal, o jornalismo é feito para quem? O difícil é saber que o povo não é
aquele que aparece na TV, todo juntinho quando rola uma manifestação. PASMEM: o
povo é o colega de classe, é o porteiro, é o professor, é o motorista.
Portanto, vamos, sim, querer fazer o melhor pro povo desse Brasil (e do mundo,
por que não?), mas, antes, vamos lembrar que o povo tá ali pertinho. É assim
tão difícil começar agora? Nem é. Basta fazer uma forcinha pra dar um bom dia
que, com certeza, as boas intenções que rondam as monografias serão bem mais fáceis
de serem aceitas no mundo carne e osso. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Jornalismo é um troço que faz
pulsar, que tira o sono, que mexe com os miolos. Não sei se a gente perde esse
amor todo pela profissão à medida que vai amadurecendo. Espero que não. Por
agora, essas inquietações que me chegam sempre que vejo um humorista
descompromissado com a verdade (a danada da verdade) se tornando um grande
ídolo, a cultura nacional sendo cada vez menos conhecida por quem jura de pés
juntos que quer ser repórter de um caderno especial (de cultura, óbvio) ou alguém
reclamando de uma pauta “humana” demais, dá um arrepio. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Podem dizer que não
tenho nada – e absolutamente nada – a ver com isso. Mas, oras, há intromissões necessárias.
Por que não? </span><u><o:p></o:p></u></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-24980273949832242352013-01-04T00:19:00.001-02:002013-02-24T11:35:48.916-03:00É aquele menino que desenha a Graúna?<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiAEpc5Frmhg1QTRbA4dXVVJXZxY1gZcsTLrLUYoVGl5rP_jV8V7vMQWINnFeCZuIAzxL91k1e1x5bhJuT6Apn4kF21RlVFfDL6nRRyrHIaXSE7k3YOCsBsPfOnxDmCZw792cDxkzUYIc/s1600/388337_4939464091713_901523597_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiAEpc5Frmhg1QTRbA4dXVVJXZxY1gZcsTLrLUYoVGl5rP_jV8V7vMQWINnFeCZuIAzxL91k1e1x5bhJuT6Apn4kF21RlVFfDL6nRRyrHIaXSE7k3YOCsBsPfOnxDmCZw792cDxkzUYIc/s320/388337_4939464091713_901523597_n.jpg" width="248" /></a><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> 4 de janeiro de 2013. Há 25 anos, Graúna,
Zeferino, Bode Orelana, Baixim e Cumprido se despediram do Henfil. A Graúna só
não chorou porque é “muito macha”, mas o Zeferino deixou de dar tiros para o
alto com a sua espingarda e o Orelana não comeu nem um livrinho sequer. As ruas
de Belo Horizonte ficaram mais sossegadas sem o Baixim, que desistiu de parar o
pé para os velhinhos e assustar criancinhas por uns tempos. Cumprido andou mais
sem graça, quietinho num canto. Todo mundo meio cabisbaixo, sentindo falta dos “putisgrilas”
do Henfil...</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Henrique de Souza Filho, Henrique
Filho, Henriquinho, Tunebinha. Em 4 de
janeiro de 1988, o cartunista mineiro abandonou a prancheta dos desenhos, a
guerrilha política e se juntou à filhinha da Graúna, no alto do céu. Hemofílico, como seus dois irmãos Betinho e
Chico Mário, Henfil contraiu o vírus da AIDS numa transfusão de sangue e, como
naquela época, a doença ainda era novidade e os recursos eram escassos, não
resistiu. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Henfil sempre teve raiva da
morte. E, enquanto viveu, despejou essa raiva em tudo quanto havia de errado no
Brasil. As injustiças sociais, o descaso político com a região nordeste do
país, os feitos malfeitos do regime militar, o imperialismo norte americano que
transformava os outros povos em cucarachas: tudo isso o enervava a ponto de fazê-lo
esquecer dos conselhos de Dona Maria. Não tinha jeito, nem censura: os
quadrinhos teimavam em denunciar e contar a história real do país daquele
momento. O país da ditadura, dos exílios, da tortura, da desigualdade social
silenciosamente gritante, do sindicalismo, da anistia, dos bolos que crescem
antes de serem repartidos... o Brasil da década de 70, do pós-68 eterno e do
milagre econômico que nunca vimos o santo. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">25 anos. De lá para cá, o Brasil
do Henfil – numa rima mais que perfeita – passou por algumas modificações: o
Lula, depois de teimar muito, virou presidente da república. A desigualdade
social, embora lute com dentes e unhas para permanecer no país, diminuiu e
parece que, enfim, a democracia – daquelas boas – está mais visível aos nossos
olhos. No entanto, basta esconder o amarelado do tempo de um quadrinho
desenhado na década de 70, que qualquer um acreditará que os personagens de
Henfil vivem no país de hoje... os diálogos são atuais, os problemas são os
mesmos, os preconceitos e as injustiças denunciados, idênticos. O nordeste
ainda sofre com o descaso político. Há crianças que ainda morrem analfabetas. Os
brasileiros ainda trocam o que é criado no Brasil pelo que vem do norte
americano. Os ricos ainda são muito ricos e os pobres ainda são muito pobres.
Mas faltam Robin Hood’s, ainda que Robin Hood’s cartunistas. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">4 de janeiro. Pós réveillon. Época
em que as pessoas olham para frente, fazem planos e traçam metas para o ano que
chega... No entanto, hoje também é dia de olhar para trás e debruçar sobre o
passado – genialmente atual. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje é dia de 25 anos sem Henfil. </span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-27285289696942138062012-12-31T20:21:00.003-02:002012-12-31T21:26:35.180-02:00Lentilhas, fitas coloridas e um punhado de sal grosso<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:DontVertAlignCellWithSp/>
<w:DontBreakConstrainedForcedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
<w:Word11KerningPairs/>
<w:CachedColBalance/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:10.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]--><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Na cozinha, as lentilhas estão de
molho, esperando a hora de recomeçar. As fitas coloridas no bolso são como arco-íris
de pano que só existem no paradoxo entre sol e chuva: sinônimos de sorte. O sal
grosso é para temperar os dias, espantar os maus e derreter o que há de ruim. É
isto: hoje é dia de simpatia para todos os gostos. Até quem não acredita faz as
suas preces, num cantinho entre um santo e outro.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Meia noite de um ano inteiro. Hoje,
porque é começo, todo mundo, no mundo todo, acredita mais, sonha mais, deseja
mais o bem... seu próprio e dos outros. Começo é assim: dá um frio na barriga
por desconhecer – a agonia típica de uma página em branco, entendem? – mas dá,
sobretudo, aquela vontade gigantesca de acertar, de fazer direito o que se propôs
a fazer, de não repetir os murros nas pontas de facas afiadas e de fortalecer o
pontapé pros voos mais altos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Ano inteiro que começa à meia
noite. As gentes todas estão na janela, como na música do Chico. Mas, dessa vez,
não esperam a banda passar. Neste caso, o que passa é o tempo. Durante os
meses, ficamos todos assistindo ao danado do tempo voar, mas no “ano-novo”
ele corre barulhento, lembrando, aos gritos, entre um foguete e outro, que é
preciso recomeçar, é preciso agir, é preciso ter fé, ousar, estar perto, falar
que gostamos... enquanto há tempo. E sempre há. </span></div>
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">De uma noite para outra, um
número muda no calendário e a gente toda muda com ele. Parece que, de repente,
todos ganhamos super poderes e nos tornamos capazes de sermos o melhor dos
melhores no melhor dos mundos. É a tal da esperança que resolve sair dos muros
pichados, das orações das mães, das universidades, da cabeça dos idealistas,
dos quadrinhos, das propagandas de coca-cola, dos cartões de natal, dos
romances na TV, das cabines de votação e (ufa!) de onde mais existam utopias...
pra pousar, como um balão, em todas as casas, de todas as cidades, entre todas
as cercas elétricas ou paredes de papelão. É assim mesmo, de perder o fôlego. </span></div>
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O Guimarães já dizia: o que a
vida quer da gente é coragem. Coragem de assumir que não é só no reveillon que
a esperança está em nós. Ela fica ali, todos os dias, numa lentilha perdida
debaixo do tapete da cozinha, esperando a gente atinar que o tempo corre pra
atacar o mundo e colorir as ideias. </span></div>
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Ah, vai, o que é que custa
acreditar o ano todo? </span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-54375381020783303712012-12-27T10:28:00.000-02:002012-12-27T10:29:06.124-02:00Meu velho!<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ler mais jornais impressos. Tomar sol.
Terminar a biografia do Hitchcock. Diminuir os toddynhos e aumentar os sucos de
laranja. Ir mais para a roça. Ler mais jornais impressos. Postar no blog. Tocar
mais violão. Conversar menos nas aulas. Ouvir mais música clássica. Fazer mais
amigos. Passar menos sábados em casa. Assistir a mais filmes. Dirigir. Falar
menos. Trabalhar o suficiente. Atualizar o currículo. Ler mais jornais
impressos. Não reclamar. Não se importar. Se importar demais. Sorrir largo. Dar
presentes. Adotar um cachorro. Conhecer outro país. Morar fora. Tirar mais
fotos. Ficar menos no computador. Ouvir mais bolachão. Fazer o bem. Rezar mais.
Escrever poesias. Olhar para o lado. Cozinhar mais. Brincar. Nadar. Ler mais
jornais impressos. Ter mais paciência. Conversar com os pais. Terminar de
escrever um livro. Começar a escrever um livro. Sair no carnaval. Beber menos. Beber
mais. Conhecer mais praças. Mudar o cabelo. Não fazer outra tatuagem. Ter
paciência. Cobrar menos. Ligar pra dinheiro. Ter mais humildade. Ler mais
jornais impressos. Bagunçar. Acreditar na política. Desconfiar dos políticos. Andar
mais descalço. Julgar menos. Fazer mais amigos. Ter menos saudade. Ter o que
lembrar. Formar. Arrumar outro emprego. Não mudar de profissão. Ler mais
jornais impressos. Ser feliz. Fazer feliz. Tentar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ano novo, meu velho! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Como prometido, segue o vigésimo
segundo CTRL C + CTRL V, cheio de carinho repetido! </span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-22284151960732863022012-12-20T11:52:00.000-02:002012-12-20T11:58:15.564-02:00Clichê?<span style="font-family: Verdana, sans-serif; text-align: justify;">Quantas
vezes, só nesta semana, você ouviu a expressão “clichê”? A cultura de produção em série – de produtos,
de ideias, de pessoas – trouxe de brinde essa agonia maluca de tentar fugir do
óbvio, ser diferente, mostrar o que ninguém viu...</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas dezembro
é um mês clichê. Ô, mesinho danado de clichê que é o tal do dezembro. Todo
mundo fica meio bonzinho, meio feliz. As refeições são as mesmas, assim como as
simpatias e cores de roupa. As casas ficam pintadas do mesmo jeito, com os
mesmos enfeites, a mesma árvore cheia de luzes indecisas e o mesmo barbudão
iludindo as crianças. As ruas ficam repletas de gente com as mesmas intenções e
as mãos cheias das mesmas sacolas. Tão repetitivo quanto este parágrafo mal feito. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E
aquele brilho nos olhos que o povo traz? Clichês.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em
todo – ou quase todo – lugar, a vontade de estar com os nossos, de desejar
coisas boas, de fazer o bem. É isso,
fazer o bem é um troço clichê. Desejar mudar tudo e ser alguém melhor? Mais que clichê. Comemorar, feito bobocas, a conclusão de 365 dias
que, um ano atrás, eram só planos é óbvio demais. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em
dezembro, acontecem aquele monte de campanhas de solidariedade, as trocas de
cartas e cartões coloridos. Começam as dietas, as promessas, os perdões, os
romances. Uma lista interminável de clichês baratos comprados a prestação.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Dezembro
é um mês clichê. Até quem foge do clichê, nesta época, é clichê. Aquelas toucas
vermelhas, os sorrisos descansados, a preocupação em acertar o presente e a
curiosidade em desembrulhar o papel. De repente, ficamos todos um tanto quanto
infantis. E tem ‘coisa’ mais clichê que criança? Estão sempre com aquelas
carinhas de consciência tranquila. Clichês!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Dezembro
é clichê. Fim do ano é clichê. Fim do mundo é clichê. Não ser clichê é clichê. Texto
sobre clichês é clichê.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ser,
pensar e agir diferente é importante e sufocantemente necessário. No entanto, dar
ao luxo de seguir a maré, ainda que escondidinho, só neste mês, é o que há de
melhor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Se
ser feliz é óbvio demais, clichês, muito prazer, aí vamos nós!</span> </div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-43326751517458032412012-12-05T09:18:00.000-02:002012-12-05T09:19:03.651-02:00Profissão: repórter?<span style="font-family: Verdana, sans-serif; text-align: justify;">Uma
pauta infeliz, sob vários aspectos. Um programa ruim que traduz qualquer coisa
menos a profissão que lhe dá o título. Uma indignação curtida, fermentada e instantânea
– tipicamente jovem. Generalizações, como sempre, ignorantes e superficiais que
se sobrepõem e se inserem em quem está dentro e fora da TV.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As
pessoas que nos apontam os dedos são as mesmas que, quando entramos na
Universidade, nos presenteiam com um discurso saudoso do próprio tempo de
loucura e de excessos perdoáveis, mas que, de repente, vestiram a máscara do
bom-m</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ocismo e passaram a condenar todo e qualquer tipo de ‘auê’.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não
menos controversos, os que se indignam por terem sido enquadrados como estudantes
que abusam do álcool são os mesmos que, há pouco tempo, comemoraram uma
pesquisa segundo a qual fazem parte da Universidade onde mais se aprende a
beber. Por que essa cara de espanto? Comemoraram, compartilharam, ufanizaram,
sim, senhores. Não adianta negar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A
Universidade, tal como ela é, não é vista pela TV. Quando raro, aparece em um
jornal ou em uma página do facebook. A Universidade, tal como ela é, está
presente na vida dos jovens que fizeram uma escolha e tiveram sorte. Melhor
época da vida – há boatos –, lugar onde somos apresentados à gente mesma,
momento em que descobrimos o mundo e o olhar sobre esse universo maluco,
estranho e assustador: são diversas as definições... </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vamos
nos indignar por termos sido caracterizados como irresponsáveis? Vamos. Mas que
tal nos sentirmos incomodados também pela apropriação cruel da vida das
mulheres que foram tão ou mais personagens de uma “reportagem” que nós?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vamos
ficar roxos de raiva por nossos pais estarem aterrorizados por verem na TV um
espaço universitário que não traduz o nosso? Vamos. Mas e se pensássemos nos
pais dos jovens que interromperam, no meio do caminho, a trajetória que escolheram,
por sermos condizentes e, por vezes, nos vangloriarmos dos nossos excessos?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Tudo
é muito além e qualquer simplismo é um vício. O que está (ou não está) em pauta
são vidas de pessoas, indignações tardias – ainda que válidas – controvérsias sérias e um mau uso do que
chamam de jornalismo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">De
tudo, o que fica é uma vontade de fazer diferente, pra não ser igual. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A
minha profissão é repórter. A deles, já não sei. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
</div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7332461711278068922.post-12730752285111845232012-10-05T07:43:00.000-03:002012-11-28T11:04:11.753-02:00Desconfio<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Quando o assunto é política, há o senso (não consenso) de que tomar partido, escolher um nome e defendê-lo é se vender, é ser menos digno de se olhar no espelho, é abrir mão de questionar e pensar de forma crítica. </span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Engano. Qualquer escolha – quando pensada – é fruto de análise, de reflexão. Escolher um nome, pregar um adesivo na mochila e colocar-se a serviço de uma causa é muito mais corajoso que o comodismo ignorante e pessimista do eterno em cima do muro, da rebeldia pouco inteligente de negar tudo quanto há – de bom e de ruim.</span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span></span><br />
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Escolher é se mostrar, é dar a cara a tapa, é defender uma utopia (ou uma vontade, que seja). Há, de fato, os que escolhem por interesses mesquinhos, individuais, hipócritas. Mas há, sobretudo, os que escolhem porque acreditam, porque esperam, porque querem fazer parte da construção de uma história melhor. Há os que escolhem porque sonham.</span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;">Ingênuos?</span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;">
</span><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Inocentes ou não, são eles – nós – que saímos de casa, que mudamos o dia, que temos a coragem necessária de levantar da cama e trabalhar por uma causa.</div>
</span><span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
A ingenuidade está em quem acredita que se abster não é tomar partido e que toda ousadia depende do outro, alheio a cada um de nós.</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: #333333; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span></span></div>
Jamylle Molhttp://www.blogger.com/profile/00987349450887117549noreply@blogger.com